Este jogo em que o Benfica espetou cinco ao Real Madrid, tem agarrado uma história curiosa: o
guarda-redes suplente do Real Madrid era, nem mais nem menos, Júlio Iglésias, o
cantor-delicodoce-romântico que desfaz corações a meninas gritantes e
balzaquianas desesperadas.
Dessa condição
de guarda-redes suplente, o jornalista José Neves de Sousa escreveu uma
maravilhosa crónica no semanário «Sete» que intitulou: «Julito: como vão esses ossos.»
Ei-la:
Ilustre multimilionário: aplausos para uma voz. Talvez
não se recorde de mim: recuando no tempo (viajando até 1963) eu estava naquela
fila de jornalistas que, na Embaixada de Espanha, em Lisboa, participou na
Conferência de Imprensa em que o Real Madrid adiantava que não tinha medo
nenhum do Benfica.
Este seu distante amigo botou umas perguntas: responderam os Puskas e os Gentos, a gente importante dos “merengues”, você (simples guarda-redes suplente, mas já a abarrotar de dinheiro por via do papá cirurgião-mor) nem abriu o bico.
Hoje, pagam-lhe fortunas só para cantarolar umas tretas que reviram os olhos das meninas.
Naquele tempo, daí a horas, o Real apanhava cinco na Luz, o Eusébio foi um portento, o Julito nem saiu da lateral: mudar de “portero” não adiantava nem atrasava, elas entravam como bólides, o pagode só queria o Eusébio e até estou em crer que você, ilustre personagem hoje mundial, nem sequer deu um autógrafo. Era bonitão, mas não funcionava como “craque” dos relvados. Entrava mudo e saía calado.
Agora entra a desfazer-se em melaço e sai em ombros. É isso que me leva a ficar cismando como o mundo vira. Sei lá se continuaria “pobretanas” caso tivesse também feito uma agulha a 180 graus e me tornasse (por exemplo) piloto de helicóptero, caçador em safaris, político profissional ou pianista para baile.
Você, Julito, nasceu confortavelmente, em berço de ouro: teve tempo para fazer experiências e até antes de ser marido da esbelta senhora que lhe deu dois filhos, já tinha tido nos braços meio mundo de misses espampanantes.
Eu tive de me governar com a prata da casa. Desculpe se não me vir no Estoril: ir ao Casino para o rever (um quarto de século depois do anonimato da futura vedeta) dava cabo do orçamento lá de casa e os “indios” tinham de travar os serrotes dentais.
Mas, em espírito, estou ao pé de si: é impossível deixar de admirar-se quem é esperto e sabe bem governar a vidinha. E vá aparecendo, a malta gostará de o ver um dia que se faça uma festa para a terceira idade, a rapaziada do nosso tempo tiver uma lagrimazita ao canto do olho e você der uma borla. Talvez a única de uma vida onde só o cifrão tem sido comandante.
Aquele (longínquo) abraço do admirador Neves de Sousa.»
Este seu distante amigo botou umas perguntas: responderam os Puskas e os Gentos, a gente importante dos “merengues”, você (simples guarda-redes suplente, mas já a abarrotar de dinheiro por via do papá cirurgião-mor) nem abriu o bico.
Hoje, pagam-lhe fortunas só para cantarolar umas tretas que reviram os olhos das meninas.
Naquele tempo, daí a horas, o Real apanhava cinco na Luz, o Eusébio foi um portento, o Julito nem saiu da lateral: mudar de “portero” não adiantava nem atrasava, elas entravam como bólides, o pagode só queria o Eusébio e até estou em crer que você, ilustre personagem hoje mundial, nem sequer deu um autógrafo. Era bonitão, mas não funcionava como “craque” dos relvados. Entrava mudo e saía calado.
Agora entra a desfazer-se em melaço e sai em ombros. É isso que me leva a ficar cismando como o mundo vira. Sei lá se continuaria “pobretanas” caso tivesse também feito uma agulha a 180 graus e me tornasse (por exemplo) piloto de helicóptero, caçador em safaris, político profissional ou pianista para baile.
Você, Julito, nasceu confortavelmente, em berço de ouro: teve tempo para fazer experiências e até antes de ser marido da esbelta senhora que lhe deu dois filhos, já tinha tido nos braços meio mundo de misses espampanantes.
Eu tive de me governar com a prata da casa. Desculpe se não me vir no Estoril: ir ao Casino para o rever (um quarto de século depois do anonimato da futura vedeta) dava cabo do orçamento lá de casa e os “indios” tinham de travar os serrotes dentais.
Mas, em espírito, estou ao pé de si: é impossível deixar de admirar-se quem é esperto e sabe bem governar a vidinha. E vá aparecendo, a malta gostará de o ver um dia que se faça uma festa para a terceira idade, a rapaziada do nosso tempo tiver uma lagrimazita ao canto do olho e você der uma borla. Talvez a única de uma vida onde só o cifrão tem sido comandante.
Aquele (longínquo) abraço do admirador Neves de Sousa.»
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