Naquele tempo,
as aulas nos liceus começavam no dia 1 de Outubro.
Feita a 4ª
classe, feito o exame de admissão ao liceu, apresentei-me, nesse ano de 1956, com os restantes
alunos, no ginásio do Liceu Gil Vicente.
As palavras do
reitor que acumulava com o posto de comissário da mocidade portuguesa.
Às
quartas-feiras e aos sábados havia, obrigatoriamente, Mocidade Portuguesa.
Exigiram que
comprasse a farda. da dita mocidade.
O meu pai foi
falar com o reitor e disse que, se o liceu não fornecia a farda, por falta
de dinheiro, não a poderia comprar.
O problema era realmente
o dinheiro mas, essencialmente a costela anti-salazarista da família.
Mesmo sem farda,
mandaram-me comparecer à instrução.
Sem farda andei
por lá cerca de um mês e acabaram por me dispensar.
Em Novembro de
1956, a União Soviética invadiu a Hungria.
Os professores
lançaram o apelo para que fossem levados géneros alimentícios para auxiliar o
povo húngaro.
Embrulhados em
papel pardo, levei arroz, açúcar, esparguete.
Alguns, e bons, anos depois, perguntei ao meu pai das razões de eu ter levado aqueles géneros alimentícios.
O meu pai
explicou que tinha sido para minha protecção.
A história da farda da mocidade
portuguesa não tinha sido esquecida e se não correspondesse ao pedido, aqueles rapazes
eram gente capaz de algumas habilidades.
Acabei por chumbar no 1º ano do liceu,
Não por motivos políticos, mas pela razão simples de que não estudei a ponta de um corno.
Apenas a Português e Ciências Naturais consegui notas positivas. O resto, foi abaixo de cão.
Nunca hei-de esquecer a gritaria de um dos professores:
«Quem estuda não guarda cabras. Há ruas para calcetar, campos para cultivar!»
Legenda: fachada actual do Liceu Gil Vicente, cartaz
do Partido Comunista Português contra o envio de alimentos para a Hungria.
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