São bonitos os itinerários do Eduardo que dos seus livros podemos tirar.
Mas há um itinerário que
não é bonito de olhar, nem de escrever.
Sabe-se que a morte virá a
seu tempo... sabe-se... mas...
Corriam as primeiras horas do ano de 2004, quando o poeta e jornalista Eduardo Guerra Carneiro, envolvido por uma imensa amargura e cansado de estar por aqui, se mandou da janela para o pátio da casa onde vivia em Lisboa.
Um tanto ou quanto como naquele discurso de abertura de Até ao Pescoço do José Jorge Letria em que o José Mário Branco
falava de alguém que se dava com cães vadios e um dia se pendurou pelo pescoço
na barra da cama.
Eduardo Guerra Carneiro deixou passar o Natal, sabe-se lá porquê, para se
suicidar.
Numa velha crónica revelava que um dia se deixara “enfeitiçar pela luminosidade de Marilyn
Monroe", cujo corpo, a 5 de Agosto de 1962, fora encontrado sem vida “sobre uma cama com lençóis azulados, o
telefone desligado, uma agenda de moradas aberta, um frasco vazio de
Nembutal".
Ele sempre pensou que era uma história mal contada.
Essa mesmo Marilyn que deixou escrito, ou num dia
qualquer, com alguém desabafou: “É Natal!
Quem tenho? Ninguém! Para que preciso de viver?".
No livro Isto Anda Tudo Ligado, que
depois deu frase por muita gente citada, Eduardo Guerra Carneiro deixou
escrito:
“Antes de tudo, no meio de tudo, para
além de tudo, o som de um long-play dos Beatles ouvido religiosa e
solitariamente na Rua Dona Luísa de Gusmão, à noite".
Não se sabe qual o disco dos Beatles que ouvia “religiosa e solitariamente”. Não é assim tão importante. Serve
apenas para lembrar aqueles que esquecemos em vida e só recordamos, se é que
vamos recordar, quando o dia da sua morte calhar num ano redondo.
De resto, apenas silêncio.
De O Revolver do Repórter:
Abro as janelas para o rio, meto o papel
na máquina, acendo um cigarro e penso: “Que grande solidão!»
Legenda: «Hors-texte» da autoria de Carlos Ferreiro
tirado de Como Não Quer a Coisa de Eduardo Guerra Carneiro.
3 comentários:
Numa carta ao seu mestre e amigo Lee Strasberg, Marilyn confessou: "tenho a certeza de que acabarei louca se continuar a viver neste pesadelo".
"BLONDE", uma biografia romanceada, da grande escritora americana Joyce Carol Oates, dá -nos um excelente retrato do que foi a criança, a mulher, o mito, e uma viagem à voz íntima desta personalidade invulgar que foi Marilyn Monroe.
Esse mesmo livro deu origem a um filme com o mesmo nome, adaptado e realizado por Andrew Dominik, que hei-de ver quando por aí aparecer e a que a criticalhada do costume já admitiu ser o melhor filme do ano.
Ver para crer como avisadamente costumo fazer.
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