Os leitores vistos pelo escritor Saramago:
«Pergunto-me se o
que move o leitor à leitura não será a secreta esperança ou a simples
possibilidade de vir a descobrir, dentro do livro, mais do que a história
contada, a pessoa invisível, mas omnipresente, que é o autor. O romance é uma
mascara que oculta e ao mesmo tempo revela os traços do romancista. Se a pessoa
que o romancista é não interessa, o romance não pode interessar. O leitor não
lê o romance, lê o romancista.»
Cadernos de
Lanzarote, Volume II, página 60.
«Quem lê, lê para
quê? Para encontrar, ou para encontrar-se.? Quando o leitor assoma à entrada de
um livro, é para conhecê-lo ou para se se reconhecer a si mesmo nele?»
Último Caderno de
Lanzarote, página 250
«Uma leitora alemã,
Maria Schwenn, de Offenbach, escreveu-me para dizer que ao ler em o Evangelho
segundo Jesus Cristo a frase: «Homens, perdoai-lhes porque ele não sabe o que
fez», sentiu desejo de imitar o Raimundo Silva da História do Cerco de Lisboa,
mudando de lugar o não, para ficar assim: «Homens, não lhe perdoeis, porque ele
sabe o que fez.» Como se verifica. Maria Schwenn foi muito mais longe do que
eu, pondo na boca de Jesus as palavras que são provavelmente a conclusão lógica
do romance e a que o autor não se atreveu, ou, melhor dizendo, nem tal lhe
passou pela cabeça. Não há dúvida de que certos leitores, de tão bons que são,
dariam escritores ótimos, capazes realmente de descer ao fundo das coisas. A
partir de agora, remate cada leitor o livro como melhor lhe parecer».
Último Caderno de
Lanzarote, página 83
«O que o autor vai
narrando nos seus livros, é, tão-somente, a sua história pessoal. Não o relato
da sua vida, não a sua biografia linearmente contada, quantas vezes anódina,
quantas vezes desinteressantes, mas uma ou outra, a vida labiríntica, a vida
profunda, aquela que dificilmente ele ousaria ou saberia contar com o seu
próprio nome.»
Último Caderno de
Lanzarote, página 253
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