Nenhuma fotografia fará subir a chama
da paisagem para lá da janela do terceiro
andar deste prédio. O real é uma abstracção
inútil, uma eternidade a que tivessem
cortando a sua face de sonho, um coração
onde nada pesa que não seja o peso
leve dos sentidos. A vida toda é este mover
das coisas mais próximas, os ombros
a bússola de viagem o desenho a tinta-da-china
de pequenos barcos coloridos
algumas vozes longínquas que logo fazem
viver as suas formas substantivas: pobre
de quem vê o que seus olhos vêem. Às vezes
é como se tudo tivesse uma alma um
destino superior às vogais do seu nome
um espaço onde a eternidade vem para morrer.
José Carlos Barros
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