quinta-feira, 13 de outubro de 2022

SO-NETO JORGE, LUIZA

A silabar que o poema é estulto

o amado abre os dentes e eu deslizo;

sismos, orgasmos tremem-lhe no olhar

enquanto eu, quase a rimar, exulto.



Conheço toda a terra só de amar:

sem nós e sem desvãos, um corpo liso.

Tenho o mênstruo escondido num reduto

onde teoricamente chega o mar.



Nos desertos -íntimos,insuspeitos-

já caem com a calma as avestruzes

-ou a distância, com os oásis, finda;



à medida que nos arcaicos leitos

se vão molhando vozes e alcatruzes

ao descerem ao fundo pego, e à vinda.

 

Luiza Neto Jorge

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