A Assembleia da República aprovou hoje o diploma que regula a prática da eutanásia, apresentado pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e que tem por base as iniciativas legislativas apresentadas pelo BE, PS PAN e IL.
O diploma aprovado vai ser apreciado pelo presidente da
República Portuguesa, que pode solicitar a fiscalização preventiva ao Tribunal
Constitucional ou vetar.
A Ordem dos Médicos voltou esta segunda-feira a
manifestar-se contra a despenalização da eutanásia, argumentando que esta
prática viola a ética e a deontologia dos médicos, que "estão preparados
para salvar vidas.
Que se pode esperar desta gente?
João Semedo que foi sempre um defensor da Euranásia:
«Eu não quero impor a eutanásia seja a quem for,
mas não aceito que me imponham opções que não são as minhas. Muito menos quando
a consequência dessa imposição é sofrer mais ou reduzir-me a um estado
vegetativo.»
O médico e escritor Fernando Namora morreu em Janeiro de
1989.
Até morrer, sofreu horrivelmente.
O Dr. José Luciano de Carvalho que, durante anos e anos,
assistiu a nossa família, quando num dia longínquo lhe perguntei a sua opinião
sobre a eutanásia, não se mostrou favorável e contou-me que, durante a doença,
ao visitar o seu amigo e colega Fernando Namora, e este lhe pedira,
encarecidamente, que o ajudasse a morrer.
- Fernando, sabes tão bem como eu, que não te posso ajudar:
fizemos um juramento…
Falava do Juramento de Hipócrates.
E volto a uma história contada pelo José Cardoso Pires:
«Dois velhos a viverem há cinquenta anos numas águas
furtadas da Avenida Marginal, frente ao Tejo: ele reformado da construção
naval, sentado à cabeceira da mulher que esperava a morte que não vinha, e a
olhar os navios que entravam e saíam da barra; a estudar os voos das gaivotas;
a confirmar hora após hora os comboios que passavam entre ele o rio por essas
praias além; a pensar mundos perdidos para lá dos nevoeiros. E vencido,
impotente, porque a mulher há tantos anos, minada por metástases até aos ossos
gritava, dormia e respirava dores, implorando a Deus que a levasse, depressa,
Senhor, depressa para a sua santíssima presença.
Uma manhã, ao despertar, o velho viu-a por instantes
bela e serena como nos seus tempos de amor. E chorou de mansinho e também ele
desejou morrer.
Depois sentiu as dores a aproximarem-se de novo, e a
escorrer lágrimas de desespero, de cansaço, de saudade, abraçou-se à mulher
amada, envolveu-se nela e no seu sofrimento e cobriu-lhe o corpo de facadas.
Suicidou-se atropelado por um comboio, mesmo em frente
da janela onde costumava ver passar os navios».
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