sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

OLHAR AS CAPAS



 

Amália Nas Suas Palavras

Amália Rodrigues e Manuel da Fonseca

Transcrição e Notas: Pedro Castanheira

Prefácio: Rui Vieira Nery

Edições Nelson de Matos/Porto Editora, Lisboa Setembro de 2020

 Amália – Eu comparo o Alentejo a uma música. Às vezes vêm-me falar da música do Doutor Jivago, que fez um sucesso no mundo inteiro. Bonita, mas não passa daqui. Não interessa nada.. Não vou daqui ali para a ouvir outra vez. E, de repente, há uma música árabe, que não tem melodia nenhuma, e sou capaz de estar dias e dias inteiros a ouvir aquilo.

Manuel da Fonseca – Você nunca ouviu o charruar do campo? A cantiga dos bois? Nunca ouviu? Ah!

Amália – Não. Já ouvi os alentejanos a cantar em coro, à noite, numa taberna.

Manuel da Fonseca – Por exemplo, nos trabalhos agrícolas, a cantar aos bois. Os bois parecem que andam parados, Os bois seguem o ritmo da cantiga.

Amália – Nunca ouvi. O Alentejo é isso. O Alentejo fala-me dessas coisas, mesmo sem eu as ter visto. É que eu sinto, no Alentejo, todo o ambiente. Só de ver o Alentejo, senti todo o ambiente. Parece que… Às vezes há homens que falam, na sua música e nos seus versos, de um país, como no caso de Dorival Caymmi. Nas cantigas que canta, eu vejo o Brasil.

Manuel da Fonseca – Pois.

Amália – Há terras… É engraçado: o Brasil é o contrário. Fala muito mais o Dorival Caymmi do Brasil do que o Brasil me fala.


1 comentário:

Seve disse...

Gostei muito deste livro pois, como se pode ler na contracapa, permite -nos acompanhar a vida de Amália, nas suas próprias palavras, desde a pobreza em que nasceu e cresceu até ao auge da sua carreira artística. São o resultado de longas horas de conversa entre um excelente escritor (Manuel da Fonseca) e o ícone do fado. São 395 páginas que vale a pena ler.