Foram os autores do
neo-realismo português e italiano que me abriram os caminhos dos dias no mundo
atribulado em que os li. Não foi o pouco que li de Karl Marx que me levaram a
esses caminhos. Junto-lhes Albert Camus, Roger Vailland, Roger Marin do Gard, autores
americanos, foram eles que me deram, sela lá o que isso for, a visão marxista
do mundo.
Num livrinho de Mário
Sacramento, Há Uma Estética Neo-Realismo?,
lido pr’aí em 1968, o autor coloca uma
epígrafe de Almeida Garrett: «A história
do mundo não é senão uma série de reacções e contra-reacções. A da literatura é
o mesmo. O que unicamente fica imutável são os eternos princípios da verdade,
do gosto e da razão em tudo.»
Mário Dionísio, dos
mais inteligentes e claros intérpretes do neo-realismo, mas não se pode
esquecer Alexandre Pinheiro Torres, lembrou Fernando Namora que já escrevera que
não se pode escrever sobre camponeses que só se tinham visto da janela do
comboio.
O Neo-Realismo teve
entre nós imensos detractores, provavelmente o mais incompreendido dos
movimentos literários do século passado. Tão adulterado, tão vilipendiado pelos
que nunca puderam sentir-lhe as raízes e o significado. Ainda por aí andam uns jovens que, sem terem lido nada de nada,
bolsam disparates aterradores.
Claro que a expressão
neo-realismo tem hoje uma expressão nitidamente datada. Mas foi ali que aprendi
parte importante dos parcos conhecimentos que tenho. Foram aqueles autores que
intentaram a literatura como instrumento de luta política e ideológica, num
tempo de trevas colocado em cena por um botas vindo de Santa Comba, e acolitado
por uma série de gente sem escrúpulos, profundamente analfabetos, de baixíssima
moral e maus. Talvez, escreveu Alves Redol, «o embalar da esperança valha mais
do que o desespero da realidade desesperada»
E não esqueço uma
frase do poeta Joaquim Namorado: «Nós
dizíamos que éramos neo-realistas porque não podíamos dizer que éramos
comunistas.»
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