sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

OLHAR AS CAPAS


 As Chegas de Bois

Antologia

Âncora Editora, Lisboa, Outubro de 2005

 

Se os deuses assim fossem poderosos

Rompiam o nevoeiro com os seus cornos

E os apóstolos de armas em punho assistiriam

Às batalhas de todos os tempo.

 

Se todas as gentes das aldeias tivessem

Em vez de arados e enxadas a raiva plena

Aos medos no Outono e no Inverno anjos

De lama guardariam as feiras e as chegas.


Os bois em suas torres de sinos de ouro

Seriam as aves últimas de Barrosos

Por aqui bestas e homens aguilhoam

O instante supremo para que um tombe.


Encontram-se nas sombras remexem-se

Rompem as queixas mostram-se os dentes

Os de cada povo gritam pelos campos

Abrem-se no rosto os próprios aguilhões.


Se os deuses quisessem fazer espantos

Asas teriam os bois coiro resplandecente

E decerto connosco estariam aqueles

Que negam o próprio coração e as vozes.


José Viale Moutinho    

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