Ah, venturosos e venturosas
que não sabem cantar. Para eles -
o derramar de lágrimas! Delícia -
derrama-se a dor como aguaceiro!
Para que trema algo sob a pedra.
Para mim - vocação a chicote -
no meio dos cantos fúnebres
manda o dever - cantar.
Porque David cantou reclinado
sobre o amigo que cortaram ao meio!
Se Orfeu não descesse ao Hades
mas mandasse lá a voz,
se apenas mandasse a voz às trevas
e se quedasse inútil à entrada,
Eurídice sairia pela voz
como por uma corda...
Por uma corda e para a luz,
sem regresso e às cegas
porque, se foi dada a voz,
poeta, foi-te tirado o resto.
Marina Tsvetávena
Tradução de Nina
Guerra e Filipe Guerra
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