Passei os dias seguintes completamente desesperado, guerreando com os fantasmas de Dickens, O. Henry e outros mestres do espírito natalício. A própria expressão «contos de Natal» tinha conotações desagradáveis para mim, evocando horrorosas efusões de pieguice e melaço. Mesmo no seu melhor, os contos de Natal não passavam de sonhos de desejos realizados, de contos de fadas para adultos, e diabos me levassem se alguma vez me iria rebaixar a escrever uma coisa dessas. No entanto, como é que alguém podia propor-se escrever um conto de Natal que não fosse sentimental? Era uma contradição nos termos, uma impossibilidade, um quebra-cabeças sem saída. Era a mesma coisa que tentar imaginar um cavalo de corrida sem pernas, ou um pássaro sem asas.
Paul Auster, do Conto de Natal de Auggie Wren, em Smoke.
Legenda: imagem Shorpy
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