O Natal será sempre o encanto e a ternura da impossibilidade. O sem sentido de alguns presentes, como naquele conto de O’ Henry: ela vendeu o lindo e comprido cabelo para lhe comprar uma corrente para o relógio, de que ele tanto gostava; ele empenhara o relógio para lhe comprar as travessas para o cabelo, de que ela tanto gostava.
Karl Valentim preferia que cortássemos do calendário o Dia De Natal, se com isso conseguíssemos que os restantes 364 dias do ano fossem todos de Natal.Gostaria que o Natal não tivesse o carácter de que se tem revestido nos últimos tempos: um consumismo desenfreado que dele fazem o dia mundial da hipocrisia.
As noites de Natal, aquelas que não mais posso repetir, passava-as em casa do meu pai, a família mais chegada, a comer bacalhau cosido com couves, a beber vinho tinto alentejano, a conversar pela noite fora, rematando-se a festa com carne de porco frita envolta em ovos mexidos, a que se seguiam umas fatias douradas, filhós e uns cálices de licor de ginja que, por Junho, se tinha colocado a marinar numa grande garrafa de vidro, juntamente com açúcar, aguardente branca, um pau de canela. A manhã começava a nascer, saía para regressar onde vivia e gostava do cheiro de Natal que sentia pelas ruas.
Tentamos fazer o mesmo com os filhos, com os netos, tentar a reinvenção dessas noites felizes,
mas é mais que certo: nunca se volta aos sítios onde fomos felizes. Falta,
essencialmente, esse passe de mágica, que eram as conversas do meu pai, um
brilhante contador de histórias.
Há coisa melhor que o Natal?
O Natal é um cantinho bom do ano, um aconchego.
2 comentários:
Já não há sapatinho na chaminé, há embrulhos a desembrulhar e papel rasgado e põe pró canto porque é "presente" a que nunca mais se liga...é o consumismo na sua plenitude.
Foi no que, num repente, o Natal se transformou: um consumismo desenfreado, estúpido, tão ao gosto de capitalistas e quejandos.
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