O Rio Na Treva
Papiniano Carlos
Capa: Armando Alves
Colecção Metamorfoses nº 16
Editorial Inova, Porto, Maio de 1975
Em silêncio
contemplo o ciclope. Fito-lhe o rosto quadrado, cruzo o meu olhar com o ódio do
seu olhar. «Levem-no.» E desço de novo
No pedaço de pátio,
que vejo através da rede da janela gradeada, um guarda lê o jornal. É um homem
ainda novo, usa bigode e tem o boné puxado para a nuca. Está todo debruçado
sobre o jornal. Que lerá? Futebol? Anúncios?
Devem ser oito da
manhã. Toco, chamo o guarda. Fumo o primeiro cigarro do dia. De sobretudo
vestido (já faz frio, e aqui não há aquecimento), sento-me à mesa de pinho,
abro as «Líricas».
«Junto de um seco,
duro, estéril monte…»
Sim, já me deixam
ler. Livros de estudo somente… E eu estudo, releio (tempo não me falta, agora)
os clássicos. Lei devagar, tomo notas. Alguma coisa hei-de ganhar, aqui.
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