terça-feira, 19 de dezembro de 2023

NATAL, 1999


                           (elegia à mãe)

ausência

que de tudo nasce:

 

pássaro em chuva

sobre o deserto e a noite;

fenda na raiz.

 

a erva do teu rosto

à mesa:

abrindo o rio, a fala;

este fulgor entre plumas e orvalho.

 

tempo sobre tempo.

 

quatro estações de pólen

e extermínio:

agora num arco sem a resina dos navios,

o canto das cerejas,

as cidades, o pão.

 

e só de ti a árvore

para o azul;

oh infinito,

ausência ausente

que de tudo nasce.

 

José Manuel Mendes em Natal…Natais

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