quarta-feira, 31 de julho de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
O ÚLTIMO NÚMERO DE "A CAPITAL"
Primeira página do último número de A Capital, 30 de
Julho de 2005, um sábado, tendo como director interino Paulo Narigão Reis.
Em 21 de Fevereiro de 1968 os ardinas passavam a ter
mais um título de vespertino para apregoar. E com alguns, saía assim: Lisboa,
Capital, República, Popular.
O jornal nasce de uma cisão no Dário de Lisboa. Norberto
Lopes, director, Mário Neves, sub-director, juntamente com outros jornalistas,
saem do Lisboa e formam a Sociedade Gráfica de A Capital.
Não alinhava com o regime mas não representou uma
situação de oposição aberta.
Maria Teresa Horta coordenava o suplemento literário,
Isabel da Nóbrega coordenava uma página feminina com ares novos, António
Torrado dirigia o suplemento infantil, José Saramago coordenava o suplemento A
Semana e esvrevia crónicas que, mais tarde, vieram a constituir o livro
Deste
Mundo e do Outro.
Na sucessão de directores que o jornal teve ao longo
tempo, aparecem os nomes de David Mourão-Ferreira e Francisco Sousa Tavares.
Alguns dos jornalistas de A Capital, de antes do 25
de Abril: Rudolfo Iriarte, Manuel Beça Múrias, Daniel Ricardo, Adelino Tavares
da Silva, Manuel Batoréo, José João Louro, Pedro Alvim, Alice Nicolau e o meu amigo
Hélder Pinho.
O perfeito louco, o inventor de histórias e
reportagens.
José João Louro, seu camarada de redacção:
Hélder
Pinho, para mim, o verdadeiro repórter. O mais autêntico até ao «naifismo». O
inventor do Leão de Rio Maior. Dezasseis primeiras páginas – o surrealismo na
imprensa portuguesa. Foi leão, canguru, até acabar como cão-d’água. Um leão que
assustou e entreteve o País. O fascismo decadente e podre pôs-se à caça do leão
pelas serras, aventureiro em busca de uma ilusão.
BPN: UM RESUMO.
No início da década passada, a administração do BPN entrou
em gestão fraudulenta.
Os reguladores, o Banco de Portugal a CMVM
não detectaram, o que se passava na instituição.
Como isso pôde acontecer, é um mistério que ainda
ninguém explicou.
Houve que injectar fundos públicos para salvar o
banco e daí resultou a nacionalização do BPN.
A gestão e negociatas do BPN, envolvem vários
dirigentes do PSD, ex-governantes cavaquistas, a maior parte com papéis
determinantes da vida da instituição.
Estes são alguns dos personagens:
Estes são alguns dos personagens:
José Oliveira Costa, Dias Loureiro, Rui Machete,
Daniel Sanches, Duarte Lima, Ângelo Correia, Arlindo Carvalho, Joaquim Coimbra.
Antes de chegar a Belém, Aníbal Cavaco Silva e a filha, sabiamente
aconselhados por José Oliveira Costa, venderam acções do banco que lhes proporcionaram
um encaixe de 350 mil euros.
O grupo luso-angolano, que pagou 40 milhões de
euros pelo BPN, já enviou para o Tesouro facturas no valor de 100 milhões de
euros ao abrigo do contrato de execução, assinado por Maria Luís Albuquerque,
actual ministra das finanças.
O Estado já deve ao BIC mais do dobro do que
esta instituição financeira pagou pela compra do BPN.
O caso BPN é uma procissão que ainda não
saiu do adro.
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Miguel Torga
segunda-feira, 29 de julho de 2013
A LENDA DE EL-REI SEBASTIÃO
Pelos idos de 67, o Em Órbita lançou um
convite aos ouvintes para que, por escrito, enviassem ideias e que outras
músicas entendiam deviam ser passadas no programa.
O prémio consistia numa visita aos estúdios da
Sampaio e Pina para presenciar, in loco, a realização do programa feito por nós e dito
por mim.
Por esses tempos, andava eu enredado na música brasileira,
esperar
não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer, contestação
para um lado, Chico Buarque para o outro, pelo meio Gilberto Gil, Nara Leão, Caetano.
Esgalhei um arrazoado sobre essas músicas.
Os rapazes gostaram e, nessa semana, mandaram-me
aparecer por lá.
Lamentavelmente, perdi esse texto, batido à máquina,
na minha velha Erika, que ainda está por aqui, como peça de museu.
Foi um belo pedaço de fim de tarde e até calhei num
dia em que o alinhamento não tinha sido feito, os LPs foram saindo do armário colocados
à papo seco, mas tudo aquilo eram grandes canções e, enquanto os discos rodavam
o Cândido Mota, com aquele seu ar bem disposto, profissional de mão cheia, ia
colocando os discos e mostrava-me o último relógio de pulso que adquirira para
a sua larga colecção.
Como convidado, alinhei na votação dos melhores
discos da semana. Tinha que escolher cinco mas, hoje, apenas me recordo de Dedicated
To One I Love dos The Mamas and The Papas e o White
Rabit dos Jefferson Airplane.
Disseram-me que aparecesse quando quisesse e assim foi
acontecendo.
Com o João Manuel Alexandre nasceram laços de estima
e consideração.
Numa das conversas com o João, veio à baila a ideia
que existia na equipa para apresentar canções de artistas portuguesas, mas as
dificuldades eram muitas, a maior delas a obrigatoriedade de não fugir à qualidade
do programa.
Falei-lhe, então, do Adriano Correia de Oliveira,
que nesse sábado iria realizar uma
sessão de canto (ainda não) livre, na Baixa da Banheira, em que também
participavam o Carlos Paredes e o José Carlos de Vasconcelos.
Acertámos em ir falar com o Adriano.
Assistimos ao concerto, alinhámos no convívio no bar
da Sociedade, muita conversa, uns queijinhos frescos, jarros de vinho tinto e
aguardar o tempo para uma conversa serena com o Adriano.
Só que o Adriano era a imprevisibilidade em pessoa e
no meio de tudo aquilo apareceu o escritor António Borga a dizer à malta que o Fernando
Lopes Graça estava num fogo de campo na Costa da Caparica
com o coro da Academia dos Amadores de Música e foi a debandada quase geral. O
Adriano esqueceu a conversa.
Nada havia a fazer.
Eu, o João e a mulher regressámos a Lisboa no seu
Carocha.
Não houve mais oportunidade de voltar ao assunto.
.
Poucas semanas depois dessa noite de sábado na Baixa
da Banheira, assentei praça em Tavira.
Para ser preciso no dia 10 de Julho de 1967.
O Em Órbita não chegava à
caserna do CISMI.
No dia 29 de Julho de 1967 o Em Órbita passava A Lenda
de El-Rei D. Sebastião do Quarteto 1111.
Cândido Mota dixit:
É o sebastianismo colectivo
que na lenda se retrata, a ideologia negativista dos que se alimentam da crença
irracional em coisas, em valores, em poderes que não existem, dos que se deixam
enganar pelos falsos Messias do oportunismo e da mistificação.
Uma tentativa honesta e inédita de lançamento das bases de uma música popular portuguesa que todos nós, em boa consciência, queremos renovada por inteira.
Temos para nós que o trecho que vamos apresentar preenche os requisitos mínimos para a sua divulgação por este programa, com todas as implicações que a sua transmissão através de "Em Órbita" acarretam.
Tendo por título "A Lenda De El-Rei D. Sebastião", é escrito por um português tocado e cantado por portugueses.
Vamos apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo, focando em especial os aspectos puramente interpretativos, instrumentais e vocais.
O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente inédito é que, em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, há uma história singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados.
Conta-se uma lenda. Como lenda que é, trazida até hoje pela herança popular, pertence ao folclore, ao património mais íntimo da comunidade e dos costumes do nosso país.
É um tema eterno, de criação nacional e de validade perene e universal.
Uma tentativa honesta e inédita de lançamento das bases de uma música popular portuguesa que todos nós, em boa consciência, queremos renovada por inteira.
Temos para nós que o trecho que vamos apresentar preenche os requisitos mínimos para a sua divulgação por este programa, com todas as implicações que a sua transmissão através de "Em Órbita" acarretam.
Tendo por título "A Lenda De El-Rei D. Sebastião", é escrito por um português tocado e cantado por portugueses.
Vamos apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo, focando em especial os aspectos puramente interpretativos, instrumentais e vocais.
O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente inédito é que, em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, há uma história singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados.
Conta-se uma lenda. Como lenda que é, trazida até hoje pela herança popular, pertence ao folclore, ao património mais íntimo da comunidade e dos costumes do nosso país.
É um tema eterno, de criação nacional e de validade perene e universal.
Nunca soube de como se chegou ao Quarteto 1111.
Uma coisa é certa: até hoje, não consegui digerir a escolha.
Legenda: a capa do disco aparece aqui por cortesia de Mr. Ié-Ié.
domingo, 28 de julho de 2013
DA MINHA GALERIA
Encontrei-o no Boteco mas não pode ir para a secção dos Cromos do Boteco.
É o chamado 2 em 1. Duas coisas de que gosto: o Elvis e, como costume chamar, música de cowboys.
O AVILTAMENTO DE BRAÇOS CRUZADOS
Miguel Torga escreveu estas palavras no seu Diário,
Volume XIV, em 11 de Março de 1985.
O que magoa, e deixa um enorme rasgo de preocupação,
é que poderiam ter sido escritas hoje:
Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da imagem.
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Governo de Direita,
Miguel Torga
sábado, 27 de julho de 2013
NOTÍCIAS DO CIRCO
PROVAVELMENTE, nesta
altura do campeonato, não interesse muito saber se a Maria Luís mentiu, ou não,
nos depoimentos que fez na Assembleia da República sobre o caso das swaps que, muito honestamente não sei o que são, e estou acompanhado
pela esmagadora maioria dos portugueses.
O que há a destacar é que
a senhora não tem condições para ocupar lugar no governo. Não é bem ser
incompetente, é outra coisa: ânsia de poder a todo o custo, uma inqualificável
falta de ética e de escrúpulos, desonestidade pura e dura.
Nos tempos que correm quem
vá para a pasta de finanças de um governo, seja como ministro, seja como secretário
de estado, tem a obrigação de saber que as swaps
são uma bomba atómica.
Não havia que esperar por,
por parte da anterior governação, que chegassem os dossiers, a informação
detalhada
.
Era, de imediato, começar
a tratar do assunto, pegar o boi pelos cornos
.
Acresce que Maria Luís não
tem ponta de desculpa porque, enquanto membro da direcção da REFER, lidou com swaps e sabe muitíssimo bem o perigo de que o assunto se reveste.
O que estamos a pagar,
continuaremos a pagar, por incompetências e irresponsabili- dades deste tipo, é
um caso de polícia.
Caso houvesse justiça
neste país.
O APARECIMENTO DE RUI MACHETE no governo,
como ministro dos negócios estrangeiros, é um mistério.
De há algum tempo se sabia
quem era a pessoa escolhida para essa pasta mas, de repente, eis que tudo muda
e surge o homem.
Diz que recebeu um
telefonema e só necessitou de três horas para se decidir.
Quem lhe telefonou, ou
mandou telefonar?
Não é difícil adivinhar.
O inquilino de Belém
entendeu que era altura de colocar no governo alguém de confiança para que
aquele bando de garotos não continuasse com as brincadeiras sem rei nem roque.
Havia que recorrer ao
polvo.
Um está preso, outros
andam por aí, não se sabe bem onde, mas com a certeza que andam a tratar da
vidinha.
A escolha recaiu em
Machete que, tal como Vitor Constãncio, nunca vislumbrou que algo de anormal
acontecia no BPN.
No momento em que as fraudes do BPN e da SLN
pesam tanto nas contas públicas e no bolso de cada contribuinte, julgo
tratar-se de uma escolha de muito mau gosto, afirmou o deputado João Semedo do Bloco de
Esquerda.
Mas Machete diz-se de
consciência tranquila… há muitos anos…
Também de bolsos cheios… há
muitos anos… diz que e foi o imperativo de servir o país que o levou a sair do
remanso em que vive, das negociatas em que se movimenta.
Os portugueses olham para
tudo isto com uma indiferença, um deixa andar, que causa medo.
JOSÉ PACHECO PEREIRA no Abrupto:
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TRÊS DIAS DE LUTO NACIONAL
Neste dia, no ano de 1970, às 09:15 horas, e ao fim de
setecentos e vinte e cinco dias após uma queda na esplanada do Forte de Santo
António, morria o ditador António de Oliveira Salazar.
Da queda da cadeira, até ao dia morte, no Hospital da Cruz
Vermelha, depois na residência de São Bento, foi representada uma comédia, uma
comédia tão insólita como sinistra.
Rómulo de Carvalho, mais conhecido por António Gedeão, nas
suas Memórias, relata aos filhos dos netos dos meus netos, o
episódio da queda da cadeira e o que se seguiu:
A queda de Salazar foi-lhe fatal. Morreu dois anos
depois, sem recuperar do traumatismo que sofrera com a queda. Contudo, durante
todo esse tempo, retido em casa ou no hospital, sempre os seus vassalos o
acompanharam respeitosamente, fingindo que nada tinha acontecido, segundo
constou, conversando sobre os problemas da governação, dando-lhe papéis a
assinar, sem que o pobre soubesse o que fazia.
Entretanto, logo após a queda, e reconhecida a sua
incapacidade para exercer o ofício de governante, foi substituído em todos os
cargos sem sequer ter dado por isso.
Este é um dos elementos talvez mais simbólicos do
apodrecimento do regime autoritário. Salazar estava mentalmente muito limitado,
mas os ministros fingiam realizar Conselhos de ministros na sua presença. O
ditador julgava que ainda decidia. À queda da cadeira seguia-se o declínio de
uma mente que se esvaziava, em farsa e simulacro.
Em Julho de 1970, terminou a lenta agonia. O antigo
chefe de Governo, que os jornais insistiam em chamar "Presidente
Salazar", como se ainda governasse, sofreu um súbito agravamento do estado
de saúde, por infecção. Pneumonia ou infecção renal, insuficiências
cardiovasculares profundas, a situação agravou-se de dia para dia, até ao
colapso definitivo, no dia 27 de Julho de 1970, de manhã, quase dois anos
depois da mítica queda da cadeira. O regime não iria sobreviver muito tempo a
Salazar. Caiu a 25 de Abril de 1974 e o estrondo ouviu-se em todo o País.
Durante os dias de agonia, os fiéis seguidores, Américo
Tomás perfilando-se na 1ª fila, afirmavam que Salazar discutia política, e,
como julgava ser ainda primeiro-ministro, dava conselhos para a governação do
país, concedia entrevistas. Uma dessa entrevistas, foi dada ao jornalista do L’Aurore,
Roland Faure, e publicada em 6 de Setembro de 1969, que mais não é que um
deprimente chorrilho de disparates.
Nas eleições de Outubro de 1969, Salazar aparece a votar na
secção da Lapa.
Salazar deposita o seu voto na urna que para o efeito fora
transportada até ao carro em que se encontravam a governanta Maria de Jesus e
uma assistente.
Soprou o bolo de velas do 80º aniversário e na residência assistiu
à missa, celebrada pelo Cardeal Cerejeira.
Por ocasião do 81º aniversário, recebeu a visita de diversas
e variadas gentes que lhe levaram flores e sorrisos.
Não terá dado por nada, mas havia que manter o embuste.
Em vida vegetativa, Salazar protagonizou uma das encenações mais
espantosas da nossa história. Durante meses repetiu o papel de presidente do
Conselho, fez «reuniões de governo», deu entrevistas, concedeu audiências. Os
seus mais antigos colaboradores continuaram a fazer de colaboradores, a ir a
despacho, a mostrar-lhe projectos, a pedir-lhe conselhos. (1)
Marcelo Caetano decretou três dias de luto nacional e o
corpo, em câmara-ardente no Mosteiro dos Jerónimos, foi depois conduzido para
Santa Comba Dão, sendo sepultado numa campa rasa no cemitério do Vimieiro.
Até ao fim dos séculos as gentes se hão-de espantar de como
foi possível que a ditadura de um homem só, amargo, desumano, crispado, tivesse
lançado o país numa guerra, sem futuro e sem glória, enquanto pelo país, um
povo, analfabeto, inculto, vivendo, na sua esmagadora maioria, miseravelmente, sobrevivia
de olhares amorfos, complacentes.
Os que se revoltavam, quase poderiam contar-se pelos dedos.
O historiador Fernando Rosas, salientou que nenhum
regime se aguenta quarenta e oito anos só com repressão. A mais longa
ditadura da Europa, contou sempre com o fundamental apoio da Igreja Católica. Sem
os sermões das igrejas, das capelas, das capelinhas, dirigidos um povo
analfabeto e inculto, crente de Nossa Senhora de Fátima, o Estado Novo não
poderia ter durado perto de cinquenta anos. Junte-se-lhe, a censura, a PIDE, as
Forças Armadas e ficamos a saber dos pilares do regime.
Tal como dizia a Lucinda, criada da Nenita:
- Oxalá não morra… É graças a ele que os portugueses não se matam uns
aos outros. (1)
O mito de um povo de brandos costumes, um povo perfilado
de medo.
1)
– Fernando Dacosta em Máscaras de Salazar, Círculo
de Leitores, Lisboa, Fevereiro de 1998.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
JÁ LÁ DIZIA O BOTAS...
Passos Coelho, em dois anos de (des)governação
aumentou os impostos, cortou ordenados, reformas, subsídios, colocou o desemprego
em números nunca vistos.
Vivemos uma trágica e brutal austeridade de que ninguém consegue saber como vamos sair.
No cumulo do desplante, da provocação ordinária, da
desfaçatez, do que sabe-se lá o quê mais, afirmou em Terras de Rei, no meio das
passeatas de propaganda a que, diariamente, dedica o tempo:
A
crise tem sido mais forte porque as pessoas gastaram menos do que previmos.
Não governa porque é
incompetente mas mesmo assim se perguntaria, com tanto passeio, onde é que
arranja tempo para ler os dossiers da governação?
Do ditador Salazar, contou Marcelo Mathias:
Eu não chego a compreender
certos ministros portugueses ou estrangeiros que vão a toda a parte, que
presidem a banquetes, cerimónias e sessões solenes, que aparecem em todas as
festas e recepções. Onde vão encontrar tempo depois de tudo isso, para fazer
uma obra, a sua obra?
Legenda: a imagem é do
Delito de Opinião.
É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS
Se não sabem, ficam a saber que o Diário de
Notícias, na sua colecção Divas, disponibiliza, hoje, um CD de Marilyn Monroe, integrado
numa colecção por onde já passaram Maria Callas, Ella Fitgerald, Amália, Edith
Piaf, Aretha Franklin, Billie Holiday, Judy Garland e, ainda passarão, Marlene
Dietrich e Carmen Miranda,
A selecção musical e notas, são da responsabilidade
de Rui Vieira Nery, enquanto Patricia Reis assina um texto ficcional sobre
Marilyn, que termina assim:
quinta-feira, 25 de julho de 2013
QUOTIDIANOS
Churchill costumava dizer
que a falta de pontualidade era um hábito ignóbil.
Marca-se um encontro para
as três da tarde e a pessoa chega passados vinte/ trinta minutos e, na maior
parte dos casos, nenhuma palavra sobre o atraso.
Chegar atrasado é uma
minudência e, pasmem!, uma perfeita normalidade.
Há quem afirme que é um
toque de diferença… ou de classe… não sei bem…
O meu pai dizia:
- O encontro é às três? Apareço dez minutos antes!
Mário Castrim com o seu
toque de hábil filósofo:
quarta-feira, 24 de julho de 2013
RAPARIGA DA REGIÃO NORTE
Bem, se viajares pela feira da região norte
Onde os ventos fustigam a fronteira
Manda lembranças àquela que lá mora
Ela foi um dia um grande amor meu
Bem, se fores quando os flocos de neve fustigam
Quando os rios gelam e o Verão termina
Por favor vê se ela usa um casaco bem quente
Que a proteja dos ventos uivantes
Por favor vê por mim se o cabelo dela cai longo
Se ondula e lhe desliza pelo peito
Por favor vê por mim se o cabelo dela cai longo
É assim que melhor a recordo
Pergunto-me se ela se ela se lembra de mim sequer
Muitas e muitas vezes rezei
Nas trevas da minha noite
Na claridade do meu dia
Portanto se viajares pela feira da região norte
Onde os ventos batem forte na fronteira
Manda lembranças àquela que lá mora
Ela foi um dia um grande amor meu.
Bob Dylan
Canção do álbum The Freewheelin’ Bob Dylan (1963)
Nota dos tradutores:
Girl of the North Country é uma canção dedicada a Echo Helstrom, a segunda namorada do Dylan adolescente (a primeira chamava-se Gloria Story), nos tempos em que este residia em Hibbing (no Minnesota), um centro mineiro perto da fronteira do Canadá. Destas duas raparigas, diz Bob Dylan que ambas foram importantes no despoletar da veia poética que existia em si e a ambas dedicou várias sessões de serenatas.
Quanto à melodia e ao poema da canção, estes são explicitamente inspirados na canção tradicional «Scarborough Fair» e, mais especificamente, no arranjo que o compositor e cantor Martin Carthy fez desta música.«Scarbrough Fair» seria também copiada por Paul Simon, de um modo que Carthy considerou incorrecto, pois Simon, ao contrário de Dylan, não agradeceu nem citou os créditos de Martin Carthy na matéria.
Como curiosidade refira-se que o nome desta antiga namorada de Dylan foi usado por um grupo norte-americano de Portland (Oregon) para nomear a sua banda. Os Echo Helstrom, um grupo de rock progressivo, têm dois discos gravados: Echo Helstrom (2003) e Veil (2006).
Bob Dylan em Canções, Volume I (1962-1973) Relógio D’Água, Lisboa Setembro de 2006.
PÁTRIAS
O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que
lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós próprios: as minhas
primeiras pátrias foram os livros. Em menor escala, as escolas.
Legenda: pintura de Jacek Yerka
terça-feira, 23 de julho de 2013
POSTAIS SEM SELO
Chaves, 11 de Abril de 1968 – Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão.
Miguel Torga, Diário, Volume X
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Salazar
O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?
Abria-se o República de 19 de Julho de 1967 e estes eram alguns dos filmes que podiam ser vistos em Lisboa.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
ASSIM O MUNDO O OUVISSE!
O Papa Francisco já chegou ao Brasil.
Hei-de sempre voltar às palavras e às ideias que este
Papa transmite ao mundo.
Num tempo de tanto desencanto sabe bem ouvir as suas palavras:
A crise mundial não traz nada de bom aos
jovens. Corremos o risco de ter uma geração que não teve trabalho, ora o
trabalho dá dignidade à pessoa. O sentido da minha viagem é de
encorajar os jovens a viverem inseridos no tecido social com os idosos. Critico a cultura de
rejeição dos idosos, que dão sabedoria à vida. No outro extremo da vida, os idosos têm a
sabedoria da vida, da história, da pátria e da família. Precisamos dela.
O MEDO COMO GESTO DO QUOTIDIANO
Em Julho de 1977, Miguel Torga, queixava-se,
amargamente, da qualidade da classe política. E mesmo assim, naquele tempo, ainda podíamos
encontrar meia dúzia de personalidades a quem poderíamos chamar políticos, políticos
responsáveis.
Essas personalidades não deixaram escola.
A escola dos políticos de hoje, foram as juventudes
partidárias.
Entraram por ali dentro, quando ainda deviam andar a
brincar com carrinhos, não souberam o que eram necessidades, a vida, como
Jerónimo disse ao Pedro e meteram meia dúzia de lérias na cabeça, que repetem
infindàvelmente, tornaram-se cínicos, imorais, aprenderam os passos para, oportunamente, se tornarem corruptos.
O país para esta gente, apenas existe em tempos de
eleições, quando enchem o peito de ares e dizem que vão fazer isto e aquilo.
Não fazem nada. Apenas irão tratar das suas
vidinhas.
O espectáculo que esses políticos deram nos últimos
vinte dias, tornou-se patético.
Visto de longe, onde as coisas também não são muito
diferentes, Portugal é um país ingovernável.
Ontem, Cavaco Silva disse o que poderia ter dito há
dez dias.
Ter-nos-ia poupado à cegada que o país, amorfo,
desesperado, assistiu pelas televisões.
O filho do sr. Teodoro da bomba de gasolina,
regressa à sua eterna irrelevância.
Ainda vai a tempo de umas férias na mansão de
Boliqueime.
O país lamenta que, tal como o Vitor, Aníbal não
possa pedir a demissão.
Voltando a Miguel Torga:
Já perdemos quase tudo.
Mas temos medo de quê?
Legenda: fotografia de Gérard Castello-Lopes
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A LEITURA DE QUEM LÊ
tão importante
que quem vende o que se lê
lê também
claro
sem saber porquê
talvez pelo pluralismo
tão dado a conhecer
ao lisboeta alegre
pluralismo que manda
na leitura e no papel
e que pensa querer reger a leitura
a leitura de quem lê
domingo, 21 de julho de 2013
POSTAIS SEM SELO
Em vez de me perder, como outrora, pela serra, a
encher os olhos da única realidade que hoje vale a pena em Portugal, a
paisagem, passo as horas sentado em frente da rádio e da televisão, na ânsia de
uma notícia de esperança. Tal é o meu desespero. Mas vêm palavras. As mais
levianas, demagógicas e tolas que se podem ouvir. Os nossos políticos andam ao
desafio. Cada qual quer ser mais irresponsável do que o parceiro. E consegue-o
sempre.
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Postais Sem Selo
JAZZ EM AGOSTO 2013
De 25 de Julho até 11 de Agosto, no Anfiteatro ao Ar Livre, Festival de Jazz da Fundação Calouste Gulbenkian.
Aqui, pode consultar o programa detalhado.
A VOZ DA TERRA ALENTEJANA
Lisboa, Novembro de 1945, João José Cochofel em
Opiniões Com Data:
Uma casual deambulação lírica pela cidade, na
companhia do Manuel da Fonseca, acabou por levar-nos até à beira-rio, à hora em
que os barcos da outra banda entornam sobre o Terreiro do paço a mancha negra
de gente que rebressa de um dia de trabalho. Um pequeno grupo de homens do povo
e de soldados adiantou-se a cantar. Alentejanos, sem dúvida alguma. E mais não
foi preciso para que o Manuel saltasse para o meio dos desconhecidos e, sem
hesitação, juntasse a sua voz à dolorosa voz colectiva da terra alentejana, ali
orgulhosamente ostentada. Vieram-me as lágrimas aos olhos, de espanto e comoção.
Mas com os alentejanos é assim. Está-lhe na massa do sangue. Todos os pretextos
lhe servem para o canto em comum. Uma polifonia bárbara, de raiz ancestral e
apreendida por instinto de geração em geração, quando muito reditível a
arquétipos, mas insubmissa a regras.
José Gomes Gomes Ferreira tem um poema que diz
que nunca viu um alentejano cantar sozinho.
Nunca vi um alentejano a cantar sozinho
com egoísmo de fonte.
Quando sente voos na garganta,
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.
Não me parece pois necessária
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.
Não me parece pois necessária
outra razão
-ou desejo
de arrancar o sol do chão-
para explicar
a reforma agrária
do Alentejo.
É apenas uma certa maneira de cantar.
-ou desejo
de arrancar o sol do chão-
para explicar
a reforma agrária
do Alentejo.
É apenas uma certa maneira de cantar.
Legenda:
Opiniões com Data, João José Cochofel, Editorial Caminho,
Lisboa Outubro de 1990.
Poeta Militante, 3º volume, José Gomes Ferreira,
Moraes Editores, Lisboa Janeiro de 1978.
sábado, 20 de julho de 2013
NOTÍCIAS DO CIRCO
É VOZ CORRENTE que a situação económica e financeira do país é
muito mais grave do que aquela que nos têm dito que é.
Só assim se compreende a
ópera bufa que está em exibição desde que o todo o poderoso ministro Vitor
Gaspar pediu a demissão do governo, argumentando que todas as suas previsões tinham
falhado, todas as medidas que tomara conduziram o país a uma catástrofe, que o
governo não tem rei nem roque.
De imediato, Paulo Portas
saltou do barco.
Irrevogavelmente.
Mas não o deixaram sair.
Voltou atrás no que
dissera e arrasta-se pelo governo à espera de um qualquer lugar, que lhe dê
mais poder, mais exposição mediática.
Cavaco Silva, depois de
dois anos a olhar para o boneco, entendeu que era altura de interferir.
Solicitou ao PSD, ao CDS,
ao PS que trocassem umas ideias sobre o estado da nação, e lhe apresentassem um
acordo de salvação nacional.
Porque se diz um político
experiente, que não cede a pressões,
venham elas de onde vierem, teceu um cenário, completamente irrealista e, como
entrava pelos dentro, condenado ao malogro.
Durante uma semana os três
partidos andaram a fingir que suavam as estopinhas em busca do tal acordo de
salvação.
Ontem, o PS bateu com a
porta.
Nunca devia ter aceitado o
presente envenenado do Presidente, mas isso já é um problema dele e do partido
.
Na opinião do Economist a decisão do presidente
foi inapta.
Durante o dia de hoje
assistimos ao triste espectáculo do passa culpas, quem traiu quem, de quem
inviabilizou o quê.
O governo volta a dizer
que está coeso, com amplo apoio parlamentar e insiste em a prosseguir a mesma
política, com os desastrosos resultados que se conhecem e que sofremos na pele.
Amanhã, à hora da janta, Cavaco
fará o ponto do descalabro.
Deprimente.
Os portugueses manifestam o
seu profundo desprezo por esta gentalha.
Uma tristeza sem fim.
PEDRO TADEU no Diário
de Notícias:
O que é um acordo de salvação nacional?
O que significa salvar o País? O que se quer salvar? Quem se quer salvar?
Os políticos do PSD, PS e CDS que
negoceiam umas frases para um papel onde ficará timbrado o percurso para essa
dita salvação nacional são os dirigentes dos partidos responsáveis pelo
percurso político de Portugal nos últimos 30 anos. São estes os partidos que
levaram o Estado, oito vezes secular, à ruína, à perda de independência
económica e ao abandono de uma parte da sua soberania política.
Estes são partidos onde medrou gente que
na política, nas empresas e no mundo financeiro utilizou abusivamente dinheiros
europeus, banalizou faturas falsas, cultivou fugas aos impostos, a
"contabilidade criativa", promoveu a construção desenfreada, os
atentados ecológicos e urbanísticos, a dependência excessiva do crédito e mais
e mais e mais...
Os negociadores do PSD, PS e CDS são
dirigentes de partidos que precisam de ser salvos, perdidos na imoralidade
carreirista, na servidão aos interesses externos, na dependência eleitoralista,
na ambição pequenina, na mediocridade dos seus quadros, no caciquismo dos seus
autarcas.
DANIEL OLIVEIRA no Arrastão:
O
BPN foi, como se sabe, oferecido ao banco de Mira Amaral. Sim, 40 milhões
de euros por um banco é uma oferta. E foi oferecido sem as dívidas, sem tudo o
que nele era tóxico e problemático. Isso, Passos Coelho, homem do rigor e dos
sacrifícios, deixou para os contribuintes. Para conseguir este extraordinário
montante, o Estado deu todas as garantias: o contrato assinado com o BIC
prevê que o banco se responsabilize por resolver as ações judiciais instauradas
contra o BPN por clientes e trabalhadores, mas, claro está, mediante reembolso
do Estado. A primeira factura chegou:100 milhões de euros. No fim o Estado pode
vir a pagar ao BIC cerca de 600 milhões de euros. 15 vezes mais do que recebeu
pela privatização.
O NÚMERO DE PORTUGUESES que viviam em privação material em 2012 aumentou
face ao ano anterior, ultrapassando os dois milhões, revela o Inquérito às
Condições de Vida e Rendimento das Famílias. Segundo o Instituto Nacional de
Estatística, são mais de 2,5 milhões os portugueses em risco de pobreza ou
exclusão social.
O nível de desemprego vai
ser pior do que diz o Governo, avisa, novamente, uma instituição internacional.
Desta feita é a OCDE que aponta para uma taxa de 18,6% da população ativa em
2014.
OS ONZE PRINCIPAIS banqueiros portugueses ganharam cada um, em média,
1,6 milhão de euros em 2011, totalizando 17,6 milhões entre salários e bónus. Os dados foram divulgados
pela Autoridade Bancária Europeia e demonstram que estes banqueiros ganharam
5,2 milhões de euros em remuneração fixa e 12,4 milhões em remuneração variável
como bónus e prémios.
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Paulo Portas
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