JOAQUIM BENITE: ENCENADOR, PEDAGOGO, COMBATENTE
Conheci o Joaquim quando ainda trabalhava com PeterBrook. No Verão de 1998 estávamos com o Je suis un phénomène no Teatro da Trindade e um dia, por curiosidade, resolvi apanhar o barco para vir conhecer o director do Festival de Almada. Nascemos no mesmo ano, com alguns dias de intervalo. Autodidactas, considerávamo-nos estudantes a longo prazo. Mas, tal como ele se divertia a lembrar, eu era originário de uma família burguesa, e ele só tinha recebido o seu primeiro par de sapatos aos dez anos de idade!
Conheci o Joaquim quando ainda trabalhava com PeterBrook. No Verão de 1998 estávamos com o Je suis un phénomène no Teatro da Trindade e um dia, por curiosidade, resolvi apanhar o barco para vir conhecer o director do Festival de Almada. Nascemos no mesmo ano, com alguns dias de intervalo. Autodidactas, considerávamo-nos estudantes a longo prazo. Mas, tal como ele se divertia a lembrar, eu era originário de uma família burguesa, e ele só tinha recebido o seu primeiro par de sapatos aos dez anos de idade!
Nesse Verão de 1998 deparei-me com um homem alegre, sensível,
entusiasta, generoso, humilde, habitado pela poesia, pela literatura, e pelo
teatro eivado de ideologia. Imediatamente me propôs trabalhar consigo: “Abramos
uma escola para técnicos e cenógrafos aqui em Almada!”. Mas, num país no qual
os ministros da Cultura se sucediam mais velozmente do que as estações do ano, tivemos
de desistir desse projecto.No entanto, empreendedor como ele era, depressa me
seduziu para outra aventura.Queria um novo abrigo para a sua Companhia. E então
construímos um teatro à sua imagem, um teatro universal: com uma pequena equipa
técnica e administrativa (não acreditava na eficácia de um grande número de
pessoas em seu redor), criámos uma sala que pudesse receber qualquer tipo de
espectáculo, quer durante o ano, quer em
Julho, durante o Festival.
Combatente, como também foi, conseguiu dobrar
aqueles que ousaram atacar as suas Fracas subvenções. O seu público — aquele que passou
a encher a sua nova sala, cinco vezes maior do que a anterior — saiu em defesa do
seu teatro, no célebre Abraço ao Teatro Azul, em Dezembro de 2010.
Pedagogo, podia falar durante horas aos seus actores
do texto que trabalhavam, do seu significado político, do Autor — mas quando se
tratava de discutir um novo espectáculo comigo, combinávamos tudo em meia dúzia de
palavras. E as suas ideias eram tão claras que muitas vezes, logo de seguida, fazia-lhe
uma primeira maqueta do cenário.
E retomávamos as nossas intermináveis discussões sobre
o estado do Mundo.
(Detalhes e programação em 30º Festivalde Almada).
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