Pelos idos de 67, o Em Órbita lançou um
convite aos ouvintes para que, por escrito, enviassem ideias e que outras
músicas entendiam deviam ser passadas no programa.
O prémio consistia numa visita aos estúdios da
Sampaio e Pina para presenciar, in loco, a realização do programa feito por nós e dito
por mim.
Por esses tempos, andava eu enredado na música brasileira,
esperar
não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer, contestação
para um lado, Chico Buarque para o outro, pelo meio Gilberto Gil, Nara Leão, Caetano.
Esgalhei um arrazoado sobre essas músicas.
Os rapazes gostaram e, nessa semana, mandaram-me
aparecer por lá.
Lamentavelmente, perdi esse texto, batido à máquina,
na minha velha Erika, que ainda está por aqui, como peça de museu.
Foi um belo pedaço de fim de tarde e até calhei num
dia em que o alinhamento não tinha sido feito, os LPs foram saindo do armário colocados
à papo seco, mas tudo aquilo eram grandes canções e, enquanto os discos rodavam
o Cândido Mota, com aquele seu ar bem disposto, profissional de mão cheia, ia
colocando os discos e mostrava-me o último relógio de pulso que adquirira para
a sua larga colecção.
Como convidado, alinhei na votação dos melhores
discos da semana. Tinha que escolher cinco mas, hoje, apenas me recordo de Dedicated
To One I Love dos The Mamas and The Papas e o White
Rabit dos Jefferson Airplane.
Disseram-me que aparecesse quando quisesse e assim foi
acontecendo.
Com o João Manuel Alexandre nasceram laços de estima
e consideração.
Numa das conversas com o João, veio à baila a ideia
que existia na equipa para apresentar canções de artistas portuguesas, mas as
dificuldades eram muitas, a maior delas a obrigatoriedade de não fugir à qualidade
do programa.
Falei-lhe, então, do Adriano Correia de Oliveira,
que nesse sábado iria realizar uma
sessão de canto (ainda não) livre, na Baixa da Banheira, em que também
participavam o Carlos Paredes e o José Carlos de Vasconcelos.
Acertámos em ir falar com o Adriano.
Assistimos ao concerto, alinhámos no convívio no bar
da Sociedade, muita conversa, uns queijinhos frescos, jarros de vinho tinto e
aguardar o tempo para uma conversa serena com o Adriano.
Só que o Adriano era a imprevisibilidade em pessoa e
no meio de tudo aquilo apareceu o escritor António Borga a dizer à malta que o Fernando
Lopes Graça estava num fogo de campo na Costa da Caparica
com o coro da Academia dos Amadores de Música e foi a debandada quase geral. O
Adriano esqueceu a conversa.
Nada havia a fazer.
Eu, o João e a mulher regressámos a Lisboa no seu
Carocha.
Não houve mais oportunidade de voltar ao assunto.
.
Poucas semanas depois dessa noite de sábado na Baixa
da Banheira, assentei praça em Tavira.
Para ser preciso no dia 10 de Julho de 1967.
O Em Órbita não chegava à
caserna do CISMI.
No dia 29 de Julho de 1967 o Em Órbita passava A Lenda
de El-Rei D. Sebastião do Quarteto 1111.
Cândido Mota dixit:
É o sebastianismo colectivo
que na lenda se retrata, a ideologia negativista dos que se alimentam da crença
irracional em coisas, em valores, em poderes que não existem, dos que se deixam
enganar pelos falsos Messias do oportunismo e da mistificação.
Uma tentativa honesta e inédita de lançamento das bases de uma música popular portuguesa que todos nós, em boa consciência, queremos renovada por inteira.
Temos para nós que o trecho que vamos apresentar preenche os requisitos mínimos para a sua divulgação por este programa, com todas as implicações que a sua transmissão através de "Em Órbita" acarretam.
Tendo por título "A Lenda De El-Rei D. Sebastião", é escrito por um português tocado e cantado por portugueses.
Vamos apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo, focando em especial os aspectos puramente interpretativos, instrumentais e vocais.
O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente inédito é que, em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, há uma história singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados.
Conta-se uma lenda. Como lenda que é, trazida até hoje pela herança popular, pertence ao folclore, ao património mais íntimo da comunidade e dos costumes do nosso país.
É um tema eterno, de criação nacional e de validade perene e universal.
Uma tentativa honesta e inédita de lançamento das bases de uma música popular portuguesa que todos nós, em boa consciência, queremos renovada por inteira.
Temos para nós que o trecho que vamos apresentar preenche os requisitos mínimos para a sua divulgação por este programa, com todas as implicações que a sua transmissão através de "Em Órbita" acarretam.
Tendo por título "A Lenda De El-Rei D. Sebastião", é escrito por um português tocado e cantado por portugueses.
Vamos apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo, focando em especial os aspectos puramente interpretativos, instrumentais e vocais.
O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente inédito é que, em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, há uma história singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados.
Conta-se uma lenda. Como lenda que é, trazida até hoje pela herança popular, pertence ao folclore, ao património mais íntimo da comunidade e dos costumes do nosso país.
É um tema eterno, de criação nacional e de validade perene e universal.
Nunca soube de como se chegou ao Quarteto 1111.
Uma coisa é certa: até hoje, não consegui digerir a escolha.
Legenda: a capa do disco aparece aqui por cortesia de Mr. Ié-Ié.
1 comentário:
Boa história! Desconhecia!Também cheguei a conhecer o João Manuel Alexandre!
LT
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