Há mortes anunciadas.
Mais tarde, ou mais cedo, sabemos que vão acontecer.
Mais uma livraria vai fechar portas no Chiado.
Em Janeiro do ano passado fechou a Livraria Portugal.
Soube-se, agora, que a Livraria Sá da Costa, na Rua
Garrett, que assinalava este ano o centenário da sua fundação, vai fechar as
portas na próxima segunda-feira. Foi declarada insolvente pelo Tribunal de Comércio
de Lisboa já que uma assembleia de credores rejeitou um plano de viabilização
da empresa apresentado a 2 de Julho. Assim sendo foi decretada a liquidação
total, que implicará a venda de todo o património da livraria e a extinção da
empresa.
Para além de livraria, a Sá da Costa era também uma
editora de clássicos.
Foi graças à Sá da Costa que pude adquirir, em 1972,
três volumes dos Ensaios de António Sérgio que me faltavam. Acabaria por comprar
todos os ensaios do Sérgio publicados pela Sá da Costa, porque era uma edição
muito cuidada, orientada por Castelo Branco Chaves, Vitorino Magalhães Godinho,
Rui Grácio, Joel Serrão e organizada por Idalina Sá da Costa e Augusto Abelaira.
Mas quem é que hoje lê António Sérgio?
Quem é que hoje frequenta livrarias?
Num local bonito onde se vendiam livros, passaremos,
certamente, a ver um espaço para venda de trapos e bugigangas.
Chamam-lhe globalização, ou lá o que é.
A última vez que estive na Sá da Costa foi, em Outubro do ano passado, no lançamento
do Para Já, Para Já do Vitor Silva Tavares.
E assim, a minha Lisboa vai desaparecendo aos poucos.
Estas coisas doem que se farta.
Poderia ir, hoje, subir o Chiado para tirar o último
boneco à Sá da Costa.
Falta-me coragem, o que lhe quiserem chamar.
Escreveu Graham Greene que a nossa vida é mais feita pelos livros que lemos do
que pelas pessoas que conhecemos.
Foi em livrarias
que comprei a esmagadora maioria dos meus livros.
Livrarias como a Sá da Costa.
Se não
sabes despedir-te diz que já voltas.
Legenda:
Vitor Silva Tavares, à conversa, na Sá da Costa, por ocasião do lançamento de
Para Já, Para Já. Para Já, Para Já
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