sábado, 31 de maio de 2014
OS CROMOS DO BOTECO
O Boteco não tem só música de última gaveta.
Também dá para encontrar uma preciosidade como esta: uma música e um conjunto bem do meu tempinho...
Procol Harum
Lado 1
Conquistador
Lado 2
All This And More
É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS
Anúncio publicado no Diário de Lisboa de 31 de Maio de 1967.
Ainda não havia Totoloto, nem Euromilhões, nem a maquinaria sofisticada que hoje existe.
E FOI PARA ESTA FARSA...
que se fez a revolução de Abril, capitães,
ao som das canções de Lopes-Graça?
Foi para voltar à fúria dos cães,
ao suor triste das ceifeiras nas searas,
as espingardas que matam os filhos as mães
num arder de lágrimas na cara?
E, no entanto,
no princípio, todos ouvíamos uma Voz
a dizer-nos que a nossa terra poderia tornar-se num pomar
de misteriosos pomos.
E nós,
todos nós, chegámos a pensar
que éramos maiores do que somos.
José Gomes Ferreira em A Poesia Continua.
ao som das canções de Lopes-Graça?
Foi para voltar à fúria dos cães,
ao suor triste das ceifeiras nas searas,
as espingardas que matam os filhos as mães
num arder de lágrimas na cara?
E, no entanto,
no princípio, todos ouvíamos uma Voz
a dizer-nos que a nossa terra poderia tornar-se num pomar
de misteriosos pomos.
E nós,
todos nós, chegámos a pensar
que éramos maiores do que somos.
José Gomes Ferreira em A Poesia Continua.
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Governo de Direita,
José Gomes Ferreira Poemas
OS IDOS DE MAIO DE 1974
27 a 31 de Maio
NO PALÁCIO Foz um grupo representativo do Movimento Democrático
de Artistas Plásticos, cobriu com um pano negro a estátua de Salazar que
se encontra nos jardins do palácio. Esse gesto foi considerado como «um
acto de criação artística», pois «a arte fascista faz mal à vista.»
APÓS duas semanas de greve parece iminente a falência da Fábrica
de Malhas Simões de Benfica.
A CÂMARA Municipal de Mação recusou-se a pagar o dia 1 de
Maio aos seus trabalhadores eventuais.
LISBOA e arredores estão sem pão. Os trabalhadores da
Panificação afirmam que foram forçados à greve.
NA NAZARÉ os pescadores continuam a lutar em terra pelo pão.
A situação arrasta-se desde o dia 12 do corrente mês e ainda não foram revistos
os respectivos acordos de trabalho.
ANTÓNIO Spínola ao chegar ao Porto e falando á multidão que
o aguardava: «as ideias democráticas e de liberdade estão sendo criminosamente
minadas por forças que visam a destruição e a anarquia.»
DADA a campanha de pressão e intimidação levada a cabo por
alguns postos de abastecimento de gasolina e gasóleo do distrito de Lisboa, o
Ministério da Coordenação Económica esclarece que se tal for necessário os
postos de gasolina serão controlados pelas autoridades militares.
OS TRABALHADORES da
empresa da Companhia das Águas de Lisboa deliberaram apresentar como exigência
a reivindicação a nacionalização imediata daquela companhia e requerer um
rigoroso inquérito aos actos da administração.
SEGUNDO informação das Forças Armadas ainda não se entregaram
às autoridades oito elementos da extinta PIDE/DGS.
SILVA PAIS continua a dizer que desconhecia os processos
usados pela PIDE e apenas cumpria ordens.
FIXADA em 1.600$00 a pensão mínima de invalidez. Abono de
família passa a 240$00
Reajustado o pré dos praças (de 30$00 para 250$00).
Do discurso, pronunciado por Spínola, no acto de posse dos conselheiros de Estado: «É tempo de cada português saber
distinguir entre programas políticos e amontoados de bem orquestrados slogans
demagógicos».
A INTERSINDICAL divulga um comunicado onde constata com
apreensão a acção desordenada e anárquica de certos elementos oportunistas e
reaccionários que tentam arrastar os trabalhadores através de greves que no
momento presente não servem os interesses dos trabalhadores.
ANTÓNIO Spínola em Coimbra, falando à multidão que o
aguardava: «para reivindicar é preciso primeiro edificar» e «não se poderá
distribuir riqueza sem a produzir».
COMEÇOU a publicar-se o jornal Revolução porta-voz do
Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias.
DE A FUNDA de Artur Portela Filho:
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que a Igreja
portuguesa passe, de paramentos e bagagens, pressurosa, subtil, intacta, da
Ditadura para a Democracia?
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que a hierarquia da
igreja portuguesa salte, do barco que se afunda, para o barco que zarpa, sem
molhar, sequer, a ponta da sotaina?
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que todos quanto
diziam, no dia 24 de Abril, que o sr. Bispo do Porto e o sr. Bispo de Nampula
eram as ovelhas negras de um rebanho branco digam, no dia 26 de Abril, que o
rebanho sempre foi todo, mas todo, negro?
Nem todos os católicos estão
Dispostos a.
Permitir.
Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução,
Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de
Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da
Secretaria de Estado da Informação e Turismo, A
Funda,
Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa
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António Spínola,
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Pide
sexta-feira, 30 de maio de 2014
NOTÍCIAS DO CIRCO
Há 40 anos, Portugal tinha um império e não tinha democracia; hoje tem
uma democracia de metecos e é uma colónia.
CHAMINÉS
Terrugem.
Chaminés da Antiga Panificadora de Sintra.
As instalações de há muito estão fechadas.
Quando a fotografia foi tirada, talvez há uns 3/4 anos, estavam em curso obras para, em seu redor, ser instalado um parque de estacionamento.
Passei por lá há dias.
O parque já se encontra em funcionamento.
POSTAIS SEM SELO
Escrevi a carta, mas não a mando. Pus-me a pensar que, mesmo que eu
metesse o coração dentro do envelope, nada conseguiria contra a solidão do
destinatário. Se i por experiência própria que há duas categorias de pessoas:
as povoadas e as despovoadas. E que é escusado lutar: os desertos humanos são
condenações irremediáveis. Estiola-os a maldição não sei que grandeza e
fascínio de auto-aniquilamento. Tão áridos e tão desmesurados, que até quem
neles se aventura corre o risco de se perder e deparar com a sua própria
desolação.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
NOTÍCIAS DO CIRCO
Fonte: Notícias ao Minuto
quarta-feira, 28 de maio de 2014
NUNCA USEI RELÓGIO. O TEMPO NUNCA COUBE NUM RELÓGIO
As grandes
descobertas
surgem
com a naturalidade de continuarem incertas
— ilhas sólidas no nevoeiro.
surgem
com a naturalidade de continuarem incertas
— ilhas sólidas no nevoeiro.
Por exemplo:
o tempo sou eu.
Apenas eu.
Uma espécie de relógio
com pele.
pés doridos do gelo.
a mão que empurrou a porta.
acendeu a luz eléctrica.
lançou lenha na fornalha
— e agora aqui estou estendido no divã
à espera de quê?
o tempo sou eu.
Apenas eu.
Uma espécie de relógio
com pele.
pés doridos do gelo.
a mão que empurrou a porta.
acendeu a luz eléctrica.
lançou lenha na fornalha
— e agora aqui estou estendido no divã
à espera de quê?
Dos passos que
nunca ouvi
instantes de outro tempo
sem manhã
nas cinzas do relógio em ti.
instantes de outro tempo
sem manhã
nas cinzas do relógio em ti.
terça-feira, 27 de maio de 2014
QUOTIDIANOS
A senhora idosa, amparada por uma muleta e agarrada ao
corrimão, subia as escadas até ao primeiro andar da Escola António Arroio, onde
se encontravam as secções de voto para as Eleições Europeias.
Um terrível ar de sofrimento estampado no rosto.
A descer, vinha, aparentemente, uma amiga.
- Então, Amélia, que ideia foi a tua?
- Tive que vir votar senão tiravam-me a reforma.
Acelerei a descida das escadas para não ouvir mais nada.
OLHAR AS CAPAS
Biografia do Ié-Ié
Luís Pinheiro de Almeida
Prefácio: Luís de Freitas Branco
Introdução: Afonso Cortez
Sistema Solar, CRL (Documenta), Lisboa, Abril de 2014-05-27
Na sua grande maioria eram constituídos por estudantes («conjuntos
académicos», «conjunto universitários»), motivo por que as carreiras tinham
curta duração, seja pela conclusão dos respectivos cursos, seja pelo
cumprimento do serviço militar obrigatório com tês frentes de guerra em África.
Era mais frequente ver uma espingarda G3 nas mãos de um jovem porttugês
do que uma guitarra Eko.
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Olhar as Capas
OS IDOS DE MAIO DE 1974
20 a 26 de Maio
POR DECISÃO da Junta de Salvação Nacional o almirante
Américo Tomás e o prof. Marcelo Caetano, deixaram o Funchal com destino ao
Brasil. A presidência do Brasil recebeu-os como exilados políticos na condição
de se absterem de qualquer actividade política no país
O Diário de Lisboa, de 22 de Maio de
1974, escrevia no seu editorial:
A partida para o Brasil de Américo Tomás e de Marcelo Caetano indigna todos os antifascistas, todo o povo português. Esperava-se o seu julgamento e o julgamento dos outros responsáveis pela política antinacional. Não por desejo de vingança, mas por imperativo de justiça.
A partida para o Brasil de Américo Tomás e de Marcelo Caetano indigna todos os antifascistas, todo o povo português. Esperava-se o seu julgamento e o julgamento dos outros responsáveis pela política antinacional. Não por desejo de vingança, mas por imperativo de justiça.
A INTERSINDICAL aconselha um ambiente de calma em relação ao
actual clima de agitação no trabalho. Desaconselha o recurso á greve, bem como
certas reivindicações salariais que podem provocar o caos económico.
ACABARAM as aulas ao sábado.
O SALÁRIO mínimo para os trabalhadores foi fixado em
3.300$00, exceptuando trabalhadores rurais e empregados domésticos. Congelados
salários acima de 7.500$00.
PROSSEGUE a greve dos 1600 trabalhadores da Messa,
em Mem Martins.
OS TRABALHADORES da Firestone retomaram o trabalho para
não lesar os interesses da economia nacional.
OS TRABALHADORES da empresa Claras decidiram deixar
de cobrar bilhetes.
NO SENTIDO da revisão da Concordata vai realizar-se uma
reunião da Comissão Organizadora do Movimento Ptó-Divórcio.
DA LISTA divulgada pelas autoridades sabe-se estarem em
liberdade doze elementos da extinta PIDE/DGS. Neste número estão
Agostinho Barbieri Cardososo e António Rosa Casaco.
PALAVRAS do bispo do Porto D. António Ferreira Gomes: «Melhor
seria que os cristãos se autocriticassem e que todos chegassem à conclusão de
que de uma maneira ou de outra pelo menos por indiferença somos culpados da
situação anterior a 25 de Abril.»
NO DIA 25 iniciaram-se em Londres, negociações com o PAIGC.
Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, chefia a comitiva portuguesa.
CRIADA a Associação dos Deficientes das Forças Armadas.
ANÚNCIO de Francisco Relógio: «Combata a inflação investindo em
obras de arte.»
NATÁLIA Nunes, na Livraria
Opinião distribui 50 exemplares da sua peça Cabeça de Abóbora que
Luzia Maria Martins tinha tentado levar à cena, mas que não tinha conseguido
devido aos cortes da censura.
FUNDAÇÃO do PPM.
APRESENTAÇÃO do Partido da Democracia Cristã.
A CÂMARA Municipal de Lisboa anuncia que deixará de ser
efectuada, aos domingos, a remoção de lixos.
HOMENAGEM a Fernando Lopes Graça no Coliseu dos Recreios com
o Coro da Academia dos Amadores de Música – Depois do medo e do silêncio.
O Movimento Socialista Popular, dirigido por Manuel Serra,
decidiu integrar-se como movimento autónomo no Partido Socialista Português.
O MINISTRO da Coordenação Económica declarou a uma televisão
espanhola que Portugal não pedirá imediatamente a sua adesão ao Mercado Comum
devido ao seu atraso económico.
DE UMA FUNDA de Artur Portela Filho:
A liberdade não censura a ineficácia. Expõe-na. O que, sendo
alguma coisa, não chega para neutralizar a ineficácia. A ineficácia é livre.
Ser ineficaz é um direito.
Só que a revolução exige eficácia.
Aí está porque é que na actualidade portuguesa, a acultura
tem de ser mobilizada, mas nem toda a cultura deve ser mobilizada. Aí está
porque é que, na actualidade portuguesa, os meios de informação têm de servir,
mas nem toda a informação serve. Nem todas as boas vontades são vontades boas.
Nem todas as adesões aderem. Nem toda a cola cola.
A eficácia é, hoje em dia, em Portugal, um caso de vida ou
de morte.
Fontes: Recortes
de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de
1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio,
Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria
de Estado da Informação e Turismo, A
Funda,
Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa
Legenda: pormenor da reportagem sobre o concerto de Fernando
Lopes Graça publicada no Diário Popular de 26 de maio de 1974.
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segunda-feira, 26 de maio de 2014
NOTÍCIAS DO CIRCO
Três anos de feroz austeridade.
As nossas vidas transformadas num inferno.
Nem todas.
Eleições para o Parlamento Europeu.
Foram ontem.
Muito poucos é que sabem o que é, o que se passa no
Parlamento Europeu.
Se é que sabem mesmo…
Assim sendo, as eleições de ontem serviam para dar uma
paulada num governo de manhosos, incompetentes, corruptos e por aí fora.
Conhecidos os resultados não houve paulada nenhuma, e o Dr.
Seguro nem na terra dele conseguiu maioria absoluta.
O futuro não vem nos livros pelo que o nosso destino está
traçado para muitas décadas.
Sermos governados pelos partidos do arco da governação, ou o
centrão ou o que à bosta quiserem
chamar.
Juntos somaram 59,16% dos votos.
A náusea invadiu-me a noite.
Uma tristeza sem fim.
Que faremos com este povo?
Jorge de Sena e os seus gritos de silêncio.
Os portugueses não se salvam porque não se querem salvar.
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OLHAR AS CAPAS
Correspondência
António José Saraiva e Óscar Lopes
Prefácio e notas: Leonor Curado Neves
Capa: Armando Lopes
Gradiva, Lisboa, Novembro de 2004
A CEE não é um espaço de lógica do mercado: a Alemanha vai acabar por
ditar a lei, com algum contrapeso da França, da Grã-Bretanha e da Itália (e um
pouco menos da Espanha). As grandes decisões são tomadas em gabinete de
Primeiros-Ministros, ou seus representantes, muito dependentes dos interesses
criados (ou que têm força para se impor). Os parlamentos nacionais não chegam
lá. O Parlamento Europeu pouquíssimo pode.
(De uma carta de Óscar Lopes para António José Saraiva em Setembro
de 1991.).
FOI BONITA A FESTA, PÁ!
Esta malta é como o vinho do Porto: quanto mais velho
melhor.
É algo de comovente ver rapazes que encheram as nossas tardes
e noites de bailes cantarem, mesmo com o toquezinho da idade, com tanta alegria
e emoção.
Surpresa das surpresas foi ver o nosso Paulinho a tocar nos Discovers.
E, mais uma vez, o Daniel Bacelar não cantou a Marcianita.
A festa de lançamento da Biografia do Ié-Ié, na
tarde de sábado, foi bonita, o Luís bem a mereceu.
O livro é um trabalho competente e quem quiser saber quem foram
os personagens daqueles tempos loucos, têm lá tudo.
Pena que por causa da final dos Campeões Europeus o tempo
fosse tão curto.
domingo, 25 de maio de 2014
PORQUE HOJE É DOMINGO
Canção Tão Simples
(Imitação
de João de Deus para irritar certos críticos)
Quem poderá domar os cavalos do vento
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?
Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?
Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?
Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?
Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?
Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?
Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?
Quem poderá domar a tempestade
quem poderá calar a voz do vento
e a liberdade
do pensamento?
Canta canção
flor de revolta
pássaro à solta
na minha mão.
E se te querem amordaçada
e se te pedem resignação
puxa da espada
e grita: Não.
Que ninguém pode proibir que sopre o vento
ninguém pode domar a tempestade
ninguém pode prender o pensamento
ninguém pode matar a liberdade.
Manuel Alegre em O Canto e as Armas
Canção de Adriano Correia de Oliveira
Música de José Niza
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FESTA ESCOCESA EM LISBOA
O Inter de Milão vivia a sua época de ouro com Helenio Herrera como
treinador.
Em 25 de Maio de 1967 o modesto Celtic apresentou-se no Estádio Nacional,
em Lisboa ,para disputar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Todo o favoritismo era atribuído aos italianos.
Lisboa foi invadida por uma multidão de escoceses que encheram as ruas
de Lisboa e, antes do jogo, cantaram, beberam cerveja como se fosse o último
dia de todas as suas vidas.
Porque, para eles, ganham ou percam, o futebol é uma festa.
Os italianos marcaram logo aos 7 minutos um golo através de uma grande
penalidade e remeteram-se ao célebre catenaccio que, por aqui, ficou conhecido
como ferrolho.
Uma loucura indescritível.
Os portugueses apoiaram, incondicionalmente, os escoceses, a velha
tendência para apoiar os mais fraco,s e também participaram na grande festa.
Lembro-me bem.
No dia seguinte o aeroporto da Portela era um mar de escoceses
espalhados pelos bancos, pelo chão. Andaram, toda a tarde e noite, pela cidade
a comemorar e esqueceram tudo e muitos acabara por perder os voos de regresso a
Glasgow.
Who cares?
Ainda hoje, quando acontece o Celtic vir jogar a Lisboa, os adeptos fazem
uma peregrinação ao Estádio Nacional e ali ficam a olhar para o sítio onde
foram felizes.
The Lions Lisbon foi o nome porque ficaram conhecidos os jogadores que
alinharam nessa tarde sol no Jamor.
Este é um recorte de um artigo publicado no Diário Popular de 26 de
Março de 1967.
Nele é abordado o dilema das chamadas «viúvas do Inter».
Helénio Herrera impunha aos seus jogadores – casados e solteiros – um regime
espartano que ninguém devia ignorar, sob pena de pesadas multas.
Legenda: o anúncio do final da Taça foi publicado em O Século de 14 de Maio de 1967.
sábado, 24 de maio de 2014
QUOTIDIANOS
O Portugal profundo, que ainda existe apesar da imensidão de autoestradas que se construíram, uma boa parte sem serem de primeira necessidade, desconhece que amanhã há eleições para o Parlamento Europeu.
E se ouviram alguma coisinha das patéticas campanhas dos
partidos do arco da governação que a televisão e a rádio transmitiram, estão-se
borrifando.
Eleições?
Europa?
O que é a Europa?
Aquela gente que nos pôs a pão e água?
Que se lixem!
Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, as de 2009,
a abstenção cifrou-se nos 63%.
Há o receio que amanhã este número seja mais expressivo.
O trágico de tudo isto, é que amanhã não vamos escolher nada
que possa dar uma volta à vida das gentes da Europa.
Naquelas cadeiras vai sentar-se uma rapaziada que escolhemos
mas que não tem qualquer voto na futura política da Europa,
A política já está escolhida.
Determinou-a
Chanceler Angela Merkel e o seu companheiro de coligação governamental, a mando
dos mercados ou o que lhe quiserem chamar.
Votar é um dever cívico, uma conquista pela qual muitos
portugueses lutaram, uma boa parte dessa gente morreu nessa luta.
O 25 de Abril trouxe-nos o direito de votar, mas ninguém se
preocupou em explicar ao povo, preto no branco, da importância de colocar um
voto numa urna. Um povo que um ditador de botas obrigou à mais brutal
ignorância, ao mais desesperado sofrimento.
Cada eleição devia ser uma possibilidade de abrir os olhos,
rasgar horizontes, para que já não houvesse qualquer razão na frase de Miguel
Torga que, volta e meia, coloco por aqui:
Que povo este!
Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando
passa a procissão.
Legenda: fotografia
de Gérard Castello-Lopes
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Miguel Torga
SARAMAGUEANDO
Estes seres são ainda crisálidas pela claríssima evidência da sua
expectação. Foram paradas no meio de um gesto, de um movimento, e olham o
espaço, não anos, ainda quando pareçam fitar-nos a direito, mas um ponto
mediano algures, que nos ignora, ou um outro, que nos apaga, distante, fora do
mundo. Ora, como tudo quanto espera, estes seres também interrogam. E é essa
interrogação, não formulada. Porém instante e irrecusável, que vem acrescentar
um novo elemento ao acto contemplativo: O sentimento da inquietação. De facto
que querem elas de nós, estas crisálidas, olhando e perguntando, como se,
tendo-nos proposto já todos os dados possíveis de um problema, não disfarçassem
a sua piedade, a sua impaciência, a sua ironia, perante a nossa indecisa
perplexidade? Mais do que olhar, somos olhados. Como se, afinal, fôssemos também
nós outras crisálidas, elaborando por detrás da carapaça algo que nos recusamos
a mostrar, aquilo que sempre se retrai diante do mais insistente de todos os
olhares: o da pintura.
José Saramago, palavras para o catálogo da Exposição de Armanda Passos, na Cooperativa Árvore, Porto 22 Novembro-10 Dezembro 91.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
UM LENÇO PARA CATARINA
Chamavas-te Catarina? Ou foi a sina
De nomear o mito e dar um rosto à História
Que fez nascer em nós teu nome de menina
Como barco sulcando as águas da memória?
E será que morreste? Ou por termos medo
Da nossa própria morte mais à frente certa
Criámos em surdina as balas do segredo
Que foi bordado a fogo na tua saia aberta?
Mas o nome qu’importa? A hora? O mês?
Em cada morte nossa morres outra vez
E colam outro nome à pedra em que te fito.
E mesmo a morte passa. A nossa e a tua.
Quando chegam as aves apenas flutua
Um lenço onde se acende o teu perfil de grito.
Manuel Alberto Valente em 10 Poemas para Catarina,
O Oiro do Dia, Porto, Maio de 1981.
OS IDOS DE MAIO DE 1974
13 a 19 de Maio
NUMA declaração do Comité Executivo da FRELIMO, pode ler-se:
«o
inimigo do povo moçambicano não é o povo português, é o próprio regime
fascista, o sistema colonial português.»
PORTUGUESES cegos reunidos em assembleia em Lisboa enviam à
Junta de Salvação Nacional uma moção onde se destaca os seguintes pontos: recenseamento
nacional dos cegos e respectiva situação socio-económica, desenvolvimento da
profilaxia da cegueira, integração dos cegos e legislação visando a admissão dos
cegos aptos nas empresas públicas e privadas.
EM FÁTIMA, o cardeal patriarca de Lisboa D. António Ribeiro
formulou votos de paz, de justiça e de liberdade entre os homens: «Esta
é a hora de os cristãos se empenharem a valer».
DEPOIMENTO de um grupo de padres da Beira Baixa: «os
bispos são os principais responsáveis pelo silêncio sobre os grandes problemas
das guerras coloniais e violação das liberdades fundamentais; crítica aos
partidos que se dizem cristãos e acolhem membros do antigo regime.»
CERCA de seis mil motoristas de táxis de Lisboa aprovaram as
seguintes reivindicações: oito horas de trabalho diário; salário mensal de seis
contos; e que se deixe de usar boné.
O TIMES publica um
editorial com o título «Portugal está a perder o domínio da
situação em África».
NO DIA 15 na Sala dos Espelhos no Palácio de Queluz, o
general Spínola assume as funções de Presidente da República.
AO 7º DIA de greve a Timex ainda não aceitou reunir com
os trabalhadores.
AO CABO de 47 amos de exílio, chega a Lisboa o capitão
Sarmento Pimentel.
CERCA DE 3000 operários da empresa J. Pimenta, SARL,
continuam em greve.
A SECRETARIA de Estado da Informação e Turismo informa que
funcionários seus estão a proceder à entrega dos volumes armazenados no Pendão,
em Queluz, de livros apreendidos aos editores e livreiros que os reclamem.
A LIVRARIA Opinião expõe autos de apreensão e
verbetes da PIDE para obras proibidas pela ditadura.
A COMISSÃO de Cultura e Espectáculos da Junta de Salvação
Nacional, divulgou um comunicado, no qual faz o seu veto aos filmes
pornográficos, invocando para tal que estes não respeitam o ponto 2,1) do
Programa do MFA que acentua a necessidade de evitar perturbações na opinião
pública causadas por agressões ideológicas dos meios reaccionários.
A CONSTITUIÇÃO do I Governo Provisório foi anunciada no dia
15, à noite, no decorrer de uma conferência de Imprensa.
O NOVO Conselho de Ministros reúne em S. Bento no dia 17. A
primeira reunião demorou cerca de 3 horas.
Adelino Palma Carlos: «Fomos agora chamados a tentar remediar
erros que não cometemos e que não podíamos sequer apontar».
SEGUNDO Palma Inácio a LUAR abandona os métodos violentos e
vai prosseguir como organização política.
SÉRGIO Godinho actua pela primeira vez em Portugal.
OS EMPREGADOS da empresa Eduardo Jorge continuam
sem cobrar bilhetes aos passageiros enquanto a administração se mantiver
silenciosa no que respeita às reivindicações salariais.
OS TRABALHADORES da Sociedade Estoril, concessionária da
linha ferroviária Lisboa-cascais, mantém a decisão de não vender bilhetes em
virtude de ainda não haver uma resposta do conselho de administração.
A ADMINISTRAÇÃO da CUF não consente na proposta de
saneamento feita pelos trabalhadores daquela empresa.
MANTÉM-SE o desacordo entre a administração da
Lisnave e os seus cerca de 8000 trabalhadores.
DISSOLUÇÃO da Polícia de Choque. Os seus elementos são
transferidos para os comandos distritais da PSP.
FORAM suspensos onze associados do Sindicato dos
Profissionais de Escritório de Lisboa dado que se verificou a sua ligação aos
agentes da PIDE a quem lhes facultavam todas as informações pedidas. Foi ainda
despedido o empregado Luís Oliveira Santos por haver provas escritas de ter
denunciado à PIDE sócios deste sindicato.
CATARINA Eufémia, símbolo da resistência ao fascismo foi
evocada na aldeia de Baleizão, passados que são 20 anos sobre a sua morte.
DE UMA FUNDA, crónica de Artur Portela
Filho:
O Partido Comunista é uma estrutura.
O Partido Socialista Português é um élan.
O Partido Comumista está no País.
O Partido Socialista Português está em Lisboa.
Álvaro Cunhal incitou as células a abrir delegações em todos os
pontos-chave do território.
Mário Soares foi conferenciar com Wilson, com Brandt, com Miterrand.
Duas maneiras. Duas vocações. Dois resultados prováveis.
Como se comportarão estas duas maneiras, estas duas vocações, a
inevitabilidade táctica, e moral, que é a Unidade?
Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução,
Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de
Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da
Secretaria de Estado da Informação e Turismo,
Legenda: fotografia da tomada de posse do I Governo
Provisório tirada do Portugal Hoje.
Recorte sobre a Polícia de Choque do República de 13 de Maio
de 1974. A
Funda,
Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa
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25 de Abril,
Álvaro Cunhal,
António Spínola,
Censura,
Mário Soares,
Pide
quinta-feira, 22 de maio de 2014
VELHOS DISCOS
Charles Aznavour faz hoje 90 anos.
Achei por bem voltar aos velhos discos que comprei na Grande Feira do Disco.
É impossível escolher uma canção de Charles Aznavour porque gosto de tudo, pelo menos as que conheço.
Este disco comprei-o em Março de 1969 e, para a altura, registava o melhor de Aznavour.
Mas a escolha de uma destas canções tem um valor sentimental: La Mamma.
O Freitas, meu sogro, gostava imenso desta canção.
Por ele, e pelo Aznavour, recordo-a aqui.
BON ANNIVERSAIRE
Tem andado por tudo o que é mundo, já esteve várias as vezes
em Portugal.
Em Agosto de 1968 foi convidado cinco estrelas do Festival
da Costa Verde.
Em trânsito para o Porto, passou por Lisboa e foi dizendo ao
repórter do Diário Popular que
começou a cantar porque era isso o que gostava de fazer. Da música portuguesa
apenas conhece Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro. Acima de tudo gosta de
viver, gosta do trabalho, do amor, da amizade e detesta coisas inertes,
negativas, O repórter lembra-lhe que os seus «cachets» são sempre exorbitantes.
Simplesmente responde com uma verdade indesmentível:
É preciso ser bem pago para se trabalhar bem.
Em 1988, a CNN elegeu Charles Aznavour artista do século pela
simples simples razão de que não se considera uma estrela e mostra-se sempre
como um trabalhador incansável da canção, talvez o último «crooner».
Em 2001 anunciou a retirada, mobilizando um mar de gente
para aqueles que seriam os seus derradeiros espectáculos, mas chegou à
conclusão que ainda não estava preparado
.
Anda em tournée de despedida desde o Outono de 2006, passou
por Lisboa em 23 de Fevereiro de 2007 dando um espectáculo no Pavilhão
Atlântico.
Continua a viajar, a eterna tournée de despedida.
Logo à noite dará um espectáculo de gala em Berlim e há dias
anunciou que já marcou o seu último
espectáculo: 22 de Maio de 2024, o dia em que fará 100 anos.
Ninguém acredita.
Este francês de origem arménia, que já compôs milhares de
canções, participou em dezenas e dezenas de filmes, faz hoje 90 anos.
É um velho companheiro da vida de muita gente espalhada pelo
mundo.
Parabéns sr. ShahnourVaghinagh Aznavourian e, pelo manos, até 2024.
Legenda: o recorte do Diário Popular é de 18 de Agosto de 1968.
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quarta-feira, 21 de maio de 2014
A FÁBRICA SIMÕES
Os meus pais que naquilo que respeitava à educação dos filhos tinham ideias esclarecidas e firmes e mandaram-me fazer a instrução primária na escola do Senhor André, na Avenida Gomes Pereira no tempo em que a fábrica Simões trabalhava ainda, a sede do Benfica se situava onde é agora a Junta de Freguesia.
António Lobo
Antunes em 1º volume do Livro deCrónicas
terça-feira, 20 de maio de 2014
JOSÉ MEDEIROS FERREIRA
Agora que a temporada futebolística, a nível nacional, terminou
e o Benfica venceu o Campeonato Nacional, a Taça da Liga, a Taça de Portugal, gostaria
de lembrar José Medeiros Ferreira que nos deixou no dia 18 de Março.
Partidariamente não navegávamos nas mesmas águas, mas era um
homem que me habituei a respeitar: um intenso e lúcido combatente contra a
ditadura e, numa outra vertente, era um benfiquista de quatro costados e muito
feliz teria ficado com as vitórias que o clube alcançou esta época.
José Medeiros Ferreira mantinha, desde 2010, um interessante
blog: Córtex Frontal.
Sentindo-se cada vez mais com a saúde fragilizada, escreveu
o seu último post no dia 9 de Fevereiro, e não esteve com meias medidas: o tema
escolhido foi o Benfica, naquela noite de vendaval que não permitiu a
realização do Benfica-Sporting.
Ainda há quem não entenda que o futebol é uma paixão que
nenhuma razão explica mas que ainda se espantam como determinados intelectuais
se colocam ao nível de um qualquer vulgar adepto.
José Medeiros Ferreira dizia que ser do Benfica era uma
maneira de estar na vida e, borrifando-se nos puristas, entendeu que o últimopost no blog teria de ser sobre o seu Benfica:
O novo inferno da Luz
Hoje o dia estava tão mau que não fui ao estádio da Luz para ver o
Benfica-Sporting. Em boa hora o fiz. Mesmo em casa com o apoio da televisão e
da rádio não consegui acompanhar o que se estava a passar em directo. Com a
UEFA presente, a a ausência de esclarecimentos da direcção do SLB, ainda
pensei que se tratava de um exercício ao vivo das autoridades de segurança da
PSP, da FPF, e da UEFA. as a bagunça foi um pouco amais além...
A falta que ficam a fazer homens como José Medeiros
Ferreira, senhor de uma lucidez impressionante, uma independência de espírito,
uma opinião clara como água, um mordaz sentido de humor, uma elevação intelectual
tão raro nos dias que correm, em que nos vemos rodeados por idiotas, aldrabões,
incompetentes, corruptos, incultos.
Numa entrevista ao I, talvez a sua última entrevista,
deixou bem expresso:
Em 1992 Portugal
teve a primeira presidência da União Europeia e, por essa razão e não por
qualquer raciocínio económico ou financeiro, resolveu aderir ao sistema
monetário europeu, cujas negociações a Grã-Bretanha tinha declinado. Portugal
avançou, mesmo aceitando uma taxa de câmbio que sobrevalorizava o escudo.
O governo de
Guterres até fez uma missa em Madrid e disse que sobre a pedra do euro - a
literatura evangélica é muito poderosa, tal como a pedra onde Pedro assentou a
Igreja - era aquela sobre a qual ia assentar a União Europeia. O euro foi uma
âncora continental para a Alemanha, depois da unificação, ficar amarrada à
União Europeia
Ainda ontem,
Ferreira do Amaral, afirmava na TVI:
A moeda é um instrumento essencial para se gerir a independência de um
país. Não teríamos tido problemas se o euro tivesse sido uma moeda normal e não
tivesse valorizado tanto. Mas foi criado para ser uma moeda forte.
Aquando do 3º
Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro no ano de 1973, José
Medeiros Ferreira encontrava-se no exílio, mas não deixou de colaborar e apresentou uma tese, Da Necessidadede um Plano para Nação, que foi lida por sua mulher.
A tese consta de um
livro, anos mais tarde, publicado pela Seara
Nova e as conclusões podem ser lidas neste nosso Olhar as Capas.
Nunca reclamou para
si que a sua tese terá influenciado os capitães de Abril, mas há quem defenda
que boa parte desse texto foi fonte de inspiração para o Programa do MFA.
Legenda: imagem do Correio da Manhã
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José Medeiros Ferreira
QUOTIDIANOS
Não estive lá, mas sou Benfica desde o longínquo domingo, com7/8 anos, quando passei a ir ao futebol com o meu avô, ainda na velha Estância de Madeira no Campo Grande.
Mas sei pelo que me disseram, pelo que as televisões interminavelmente
mostraram, duma Praça do Município completamente cheia, as gentes a extravasarem
para as ruas circundantes.
Bandeiras desfraldadas, cartazes pintados à mão, uma grande
fotografia do Eusébio, cânticos, vivas, algures estariam as roulotes com
bifanas, sandes de coirato, cervejas.
Um entusiasmo legítimo, tão natural como a água que se bebe quando
temos sede.
Mas na Praça do Município estive, 13 de Outubro de 1998,
quando José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, assomou àquela mesma janela
para um aceno de agradecimento, àqueles que preenchiam menos de meia Praça mas
que lhe quiseram dizer obrigado pelos livros, as palavras, os gestos com que
nos ajuda a preencher os dias.
O que faz correr as gentes, estas gentes tão sós?
O dia em que enchermos uma qualquer praça para saudar a
cultura como a enchemos para saudar o futebol, aí podemos dizer que somos um
país, um país em que dá gosto viver por sabermos, então, o que por aqui andamos
a fazer.
Que se deixou cair que o Benfica tenha apanhado do chão?,
perguntava, em Abril de 1972, Artur Portela Filho.
Apeteceu-me, em final de crónica, deixar palavras do José
Gomes Ferreira, mais por esperança do que por tristeza ou desespero:
Que bom! continuar a embalar medrosamente sonhos, considerando-os
irrealizáveis, difíceis e impossíveis, apesar de estarmos tão próximos… tão
próximos do futuro que bastaria um passo… um passo apenas… sem abismos… nem
riscos… Somente um passo
(Eu sou pelo passo.)
Legenda: imagens, respectivamente, de A bola e do Público.
Legenda: imagens, respectivamente, de A bola e do Público.
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DITOS & REDITOS
Precisamos de
tempo e de solidão para dormir sobre os assuntos.
Tudo o que cair
sobre ti, sobre mim cai, ajuda-me que eu ajudar-te-ei.
Amor velho não
cansa.
Nesta vida é mais
fácil morrer do que viver.
O Portugal que
conhecemos acabou.
No aproveitar é
que está o ganho.
Dançar é rezar com
as pernas.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
DA MINHA GALERIA
Se não tivesse ganho o caneco vinha cá na mesma.
Não sou apenas Benfica nas vitórias.
Campeonato, Taça da Liga, Taça de Portugal.
Na capa de A Bola lia-se Trinédito.
Lá mais para o Verão voltamos a falar.
Até lá!
domingo, 18 de maio de 2014
PORQUE HOJE É DOMINGO
E acaba a época futebolistica.
Ainda há a Selecção Nacional no Campeonato do Brasil, mas isso é uma outra história.
É como o findar do Natal: ficar a contar os dias para que ele regresse. Mas contar os dias para o regressar do campeonato torna-se uma tarefa mais curta.
Como sempre, a ideia que logo vamos ganhar o caneco e terminar uma época, que poderia ser brilhante, mas que, e aconteça o que acontecer logo no Jamor, é muito boa.
Não foi brilhante porque uma série de condicionalismos nos impediu de erguer o troféu da Liga Europa em Turim.
Não foi o perder a final que me deixou chateada. Ganha-se e perde-se e as coisas são mesmo assim.
O que me deixou fora do sério foi a gatunagem do árbitro.
Se não foi encomendado bem parece.
Mas isso são coisas que já lá vão e logo o importante é fazer a dobradinha.
Viva o Benfica!
Bom domingo!
NOTÍCIAS DO CIRCO
O Presidente
português, Cavaco Silva, ofereceu ao seu homólogo chinês, Xi Jinping, uma
camisola da seleção nacional de futebol assinada pelo capitão Cristiano
Ronaldo.
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Notícias do Circo
OS IDOS DE MAIO DE 1974
De 6 a 12 de Maio de 1974
NO DIA 6 de Maio é fundado o Partido Popular Democrata (PPD).
Na comissão organizadora estão Francisco Pinto Balsemão,
Joaquim Magalhães Mota e Francisco Sá Carneiro que será o secretário-geral.
O PPD é um partido voltado para o progresso social e
aberto à esquerda não marxista. São justos e equilibrados os caminhos da
Social-Democracia.
MIGUEL TORGA, no dia 6 de Maio escreve no seu Diário:
Continua a revolução, e todos se apressam a assinar o ponto.
- O senhor não diz nada? – Interpelou-me há pouco despudoradamente, um
dos novos prosélitos.
E fiquei sem fala diante da irresponsabilidade de semelhante pergunta.
Foi como se me tivessem feito engolir, cinquenta anos de protesto
VASCO Vieira de Almeida, delegado da Junta de Salvação Nacional,
no Ministério das Finanças, esclareceu que as deliberações adoptadas pelo MFA
apenas visaram impedir acções especulativas a todos os níveis, fugas da massa
monetária e reprimir subidas abusivas de preços. Informou também que o mercado
da bolsa continuará encerrado e da reabertura dará, quando tomar posse o
Governo Provisório.
COMEÇOU a funcionar a sede provisória do Partido Comunista
Português na Rua António Serpa, onde funcionava o comando 4 da extinta Legião Portuguesa.
CERCA de 50 000 pessoas participaram num comício organizado
por um movimento político criado pela população branca de Moçambique FICO-Frente
Independente de Solidariedade Ocidental. Os seus dirigentes manifestaram o seu
inteiro apoio ao general António Spínola e tencionam conduzir uma campanha
contra o abandono dos territórios africanos por parte de Portugal.
JORGE Paulo Teixeira, director de informação e Propaganda do
MPLA declarou em Argel: «Rejeitamos a ideia apresentada pelo general
Spínola para um Estado Federal, porque é necessário ter em conta que somos
entidades diferentes. Angola não é Portugal, como é a Guiné-Bissau, nem
Moçambique. Recusamo-nos a ser considerados portugueses de pele negra».
MÁRIO Soares afirmou que o Partido Socialista não é
um partido burguês e se tentará organizar sobre a base da classe operária, onde
os representantes de outras classes terão igualmente lugar.
AGOSTINHO Neto, declarou em Copenhaga que o «general
Spínola não disse em momento algum que seja aceitável para nós» e por essa razão «continuamos a lutar até que os portugueses decretem publicamente que
temos, plenamente, direito á independência». Acrescentou ainda que «não percebe como é que Portugal se pode
transformar num estado democrático, sem que os povos das colónias obtenham a
sua independência».
O GRANDE Ditador, escrito, produzido e realizado por Charles
Chaplin é finalmente exibido em Portugal na sua versão integral.
NUNO Calvet de Magalhães anuncia para breve o texto do
programa do Partido Cristão Social-Democrata do qual é um dos fundadores.
ASCENDE a 560 contos o dinheiro apreendido pela extinta PIDE/DGS
aos presos políticos.
OS FUNCIONÁRIOS da CARRIS dizem não ao boné. Após o
Sindicato dos Motoristas ter decidido a abolição do uso do boné, é a vez dos
cobradores aprovarem idêntica decisão.
DADO a empresa proprietária de O Século e os seus
trabalhadores não terem chegado a acordo, aquele jornal não se aplica há três
dias.
ÓSCAR Lopes foi nomeado pela Junta de Salvação Nacional para
director da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
EM CONSEQUÊNCIA de desinteligências no seio do Partido Cristão Social-Democrata
verificou-se uma cisão de que resultou o Partido
da Democracia Cristã.
CHAMPALIMAUD elogia Spínola: espero que nunca mais voltemos
aos tempos passados.
DUAS únicas apresentações do grupo espanhol AGUAVIVA
no Monumental.
RELAÇÕES diplomáticas cum a URSS são um caso a estudar.
SEGUNDO Miller Guerra o PPD virá a ser um partido dominante pois o
programa poderá ser facilmente aceite pela fracção burguesa a que o Movimento
dos Capitães deu força e significação.
SITUAÇÃO tensa na Timex. A administração recusa
receber os trabalhadores. Dois mil trabalhadores estão em greve.
MIL moradores de bairros da lata ocupam 23 blocos de Chelas,
vazios há dois anos.
A INTERSINDICAL estuda transformar o A Época num jornal diário
de trabalhadores.
Divulgado programa político do MES, Movimento de Esquerda
Socialista.
VERGÍLIO Ferreira, no dia 10 de Maio, escreve no seu Conta-Corrente:
Seria útil dar o balanço de quinze dias de revolução. Mas tudo se
mantém ainda confuso. No entanto, alguma coisa se vai esclarecendo: de um lado
a ideia de que a revolução é para o interesse de cada um de nós, singularizado
no esquecimento dos outros; do outro lado, a visível manifestação a todos os
níveis, de núcleos comunistas. Seria uma revolução PC? Greves. Já começaram. Que
não se propaguem em epidemia e ferem o caos. Para onde vamos? Por sobre tudo,
uma certeza: os militares continuam de armas aperradas.
Fontes: Recortes
de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de
1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio,
Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria
de Estado da Informação e Turismo, A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa
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