quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A LIBERDADE APRENDE-SE


Continuamos com algumas das histórias do 25 de Abril contadas por Rómulo aos seus tetranetos:

A liberdade oferecida de surpresa a um povo civicamente atrasado, de elevada percentagem de analfabetismo e acentuado nível de miséria, analfabetismo e miséria que o salazarismo se esforçava por manter como sinais de virtude, o que muitas vezes foi exaltado pelos deputados do Parlamento da época, iria essa, liberdade, originar situações de grande desequilíbrio social, como de facto se verificou.
Recordo uma tarde em que me encontrei, no meu bairro, junto do restaurante Canas, com um colega de profissão. Homem culto e democrata consciente, o Joel Serrão, pouco depois dos 25 de Abril. Estávamos no passeio, parados, conversando. O sítio tem muito movimento o que provoca algum aperto aos transeuntes, mais as cadeiras e mesas que o restaurante tem cá fora, para o café. Como estávamos, porém, em liberdade, andavam dois matulões a jogar à bola no dito passeio com evidente incómodo para quem passava. Chamei a atenção ao meu interlocutor para o caso, e ele, acentuando vagarosamente as palavras, amansou a minha censura dizendo: É certo, mas a liberdade aprende-se!
Onde, e como, se o aprendiz dessa liberdade e em nome dela mesma, tem a liberdade de não a aprender?


Legenda: fotografia tirada de booktailors

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