Continuamos com
algumas das histórias do 25 de Abril contadas por Rómulo aos seus tetranetos:
A liberdade oferecida de surpresa a um povo
civicamente atrasado, de elevada percentagem de analfabetismo e acentuado nível
de miséria, analfabetismo e miséria que o salazarismo se esforçava por manter
como sinais de virtude, o que muitas vezes foi exaltado pelos deputados do
Parlamento da época, iria essa, liberdade, originar situações de grande
desequilíbrio social, como de facto se verificou.
Recordo uma tarde em que me encontrei, no meu bairro,
junto do restaurante Canas, com um colega de profissão. Homem culto e democrata
consciente, o Joel Serrão, pouco depois dos 25 de Abril. Estávamos no passeio,
parados, conversando. O sítio tem muito movimento o que provoca algum aperto
aos transeuntes, mais as cadeiras e mesas que o restaurante tem cá fora, para o
café. Como estávamos, porém, em liberdade, andavam dois matulões a jogar à bola
no dito passeio com evidente incómodo para quem passava. Chamei a atenção ao
meu interlocutor para o caso, e ele, acentuando vagarosamente as palavras,
amansou a minha censura dizendo: É certo, mas a liberdade aprende-se!
Onde, e como, se o aprendiz dessa liberdade e em nome
dela mesma, tem a liberdade de não a aprender?
Em Memórias
Legenda:
fotografia tirada de booktailors
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