Aqui, pensou o médico, desagua a última miséria, a
solidão absoluta, o que nós próprios não aguentamos suportar, os mais
escondidos e vergonhosos dos nossos sentimentos, o que nos outros chamamos de
loucura que é afinal a nossa e da qual nos protegemos a etiquetá-la, a
comprimi-la de grades, a alimentá-la de pastilhas e de gotas para que continue
existindo, a conceder-lhe licença de saída ao fim de semana e a encaminhá-la na
direcção de uma «normalidade» que provavelmente consiste apenas no empalhar em
vida.
António Lobo
Antunes em Memória de Elefante
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