Dito já que começaram as iniciativas que visam
registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei
pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um
parágrafo, aquilo que constituem os milhares de sublinhados que, ao longo
dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam
a Biblioteca da Casa.
No dia 15 de Junho de 1981, José Saramago esteve presente na Informação-2 da RTP para falar de Viagem a Portugal.
No dia seguinte, Mário Castrim escrevia no seu Canal
da Crítica do Diário de Lisboa:
«Raramente a arte de escrever voou tão alto.»
Castrim
definitivo, em meia dúzia de palavras, define a excelência deste livro de
Saramago onde fica exemplarmente retratado «o amor por um país, por um povo, aquilo que somos».
Começam hoje, os muitos e muitos sublinhados que este
livro me deixou
«O viajante viajou no seu país. Isto significa que
viajou por dentro de si mesmo.»
Mas…
«A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E
mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o
viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia
que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso
ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que
se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite com Sol onde primeiramente a
chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a
sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para
os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a
viagem, O viajante volta já.»
3 comentários:
Recordar Mário Castrim é recordar o maior e melhor escritor português sobre televisão.
Haverá algum livro publicado (das suas criticas?)
Poderemos dizer que Mário Castrim foi o inventor da crítica de televisão em Portugal.
Começou a fazer crítica de televisão, no Diário de Lisboa, em 14 de Maio de 1965.
Em 1990, Fernando Assis Pacheco calculou que Mário Castrim já passara 17 mil horas frente ao televisor. Em Outubro de 2002, tempo da sua morte, as contas foram calculadas em 70 mil horas.
Seria um trabalho de serviço público o recolher e publicar as críticas de Mário Castrim. Não só as que foram publicadas (sempre esquartejadas pela censura) como as que a Censura proibiu.
Um trabalho que seria de equipa, um trabalho, devidamente apoiado, por exemplo pela Gulbenkian.
Ficaríamos com uma visão única e diferente sobre o modo como a televisão (não) viu o Portugal de antes e depois de Abril.
Conheço dois livros sobre televisão do Mário Castrim:
1)«O Lugar do Televisor» que reúne crónicas sobre televisão que ele publicou para o jornal «Audácia» dos Missionários Combonianos. Edições Além-Mar
2)«Histórias da Televisão Portuguesa» , Campo das Letras Editores, Porto 1997.
Provavelmente só os encontrará em alfarrabistas ou feiras de ocasião.
Publicar as crónicas e as críticas de Mário Castrim seria um precioso serviço público.
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