segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

CONVERSANDO


O meu pai tinha uma grande admiração por Orlando da Costa.

Nunca se conheceram e não tenho ideia de conversarmos, ao ponto de saber, literatura à parte, dos porquês dessa admiração.

Dos livros de Orlando Costa que então estavam lá em casa, só um chegou até aqui: O Signo da Ira. Muitos livros da Bibliotecas tiveram descaminhos diversos, muitos emprestados por meu pai a amigos presos, em Caxias, pela PIDE. Alguns livros regressaram, outros não.

Quando li Podem Chamar-me Eurídice, não foi a 1ª edição da Arcádia que fôra comprada pelo meu pai..

Já contei essa história por aqui e volto a contar:

«Em Olhar as Capas surge a edição da casa de Podem Chamar-me Eurídice, chancela da Seara Nova, adquirida já depois do 25 de Abril

Mas a primeira leitura tinha ocorrido antes, livro emprestado pelo Carlos Alberto que era o campeão da rua no que tocava a livros «Fora do Mercado». 

Nunca revelou como os obtinha mas ninguém se preocupava com o pormenor.

Um livro de que gostei muito e que me marcou.» 

No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o jornal Público, uma vez por mês, na Colecção Biblioteca da Censura, publica um livro dos muitos proibidos pela censura salazarista/caetanista.

Um dos livros da colecção, publicado em Dezembro de 2022, foi Sete Odes do Canto Comum de Orlando da Costa.

Nunca li o livro que, segundo ficha elaborada pelo meu pai, pertencia à Biblioteca da Casa, mas, quando, após a sua morte, fechei a casa, não o encontrei.

Maria Antónia Palla, escritora e ex-jornalista, foi casada com Orlando Costa, escreveu, sobre Sete Odes do Canto Comum o artigo que aqui se reproduz.

Desse texto, retiro este bonito e ternurento parágrafo:

«Era um homem tolerante, amável, bom conversador. Fugia-lhe o pé para a boémia. Fumava cachimbo. Era um esteta. Vestia com elegância, o fato bem passado, o lenço de seda no bolso do casaco a combinar com a gravata. Em todas as circunstâncias, com mais ou menos dinheiro, mostrava requinte, disposição para divagar, humor.»

A terminar o artigo, Maria Antónia Palla escreve:

«Um grande romancista. Um bom poeta. Um impoluto cidadão.»

Irei ler, pela primeira vez, Sete Odes do Canto Comum de Orlando da Costa.

Neste findar de conversa, permitam-me, que do artigo, repita esta frase:

«Fumava cachimbo».

2 comentários:

Seve disse...

Certamente será do conhecimento de todos mas permito-me acrescentar que o Orlando da Costa era o pai do actual 1°.ministro, António Costa.
Estou certo, não estou, Sammy?

Sammy, o Paquete disse...

Continuando a conversar, podemos fazer o acrescento que o 1º Ministro terá apanhado mais as influências de sua mãe, Maria Antónia Palla, do que do seu pai Orlando da Costa.
Segundo o artigo que Maria Antónia Palla escreveu no Público: ««Orlando da Costa gostava de música. O nome de seu filho António foi buscá-lo a Vivaldi.»