segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

CAMÕES E A TENÇA

        Irás ao paço. Irás pedir que a tença

     Seja paga na data combinada

     Este país te mata lentamente

     País que tu chamaste e não responde

     País que tu nomeias e não nasce

 

     Em tua perdição se conjuraram

     Calúnia desamor inveja ardente

     E sempre os inimigos sobejaram

     A quem ousou mais ser que a outra gente

 

     E aqueles que invocaste não te viram

     Porque estavam curvados e dobrados

     Pela paciência cuja mão de cinza

     Tinha apagado os olhos no seu rosto

 

     Irás ao paço irás pacientemente

     pois não te pedem canto mas paciência

 

     Este país te mata lentamente

 

Sophia de Mello Breyner Andresen de Grades em Poesia 70

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