quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

CONVERSANDO


Há algum tempo, numa modificação descabelada aos seus cronistas, o Expresso mandou bugiar dois, que eu muito apreciava: Ana Cristina Leonardo e Manuel S. Fonseca. Ficaram por lá encomendas como a Clara Ferreira Alves, o Pedro Mexia, o Henrique Monteiro, um tal de Luís Pedro Nunes, etc.

No caso de Cristina Leonardo tive sorte porque a reencontei, às sextas-feiras no suplemento Ipsilon do Público. Quanto ao Manuel S. Fonseca voou para o Correio da Manhã, e aí nada feito porque não leio o pasquim.

Acontece, porém que Manuel S. Fonseca tem um blogue, a sua Página Negra, e nem tudo está perdido.

Vai agora publicar um livro na sua editora Guerra & Paz. Chama-se Crónica de África.

«Livro narcisista com foto minha, quase de bibe, na capa. É um livrinho em três actos, infância, adolescência e independência. Livro de fim de império, aqui se contam, com espanto e reverência, as coisas que desfilaram pelos meus olhos míopes: chimpanzés a beber coca-colas, indolentes caranguejos em fuga, idealistas a correr desenfreados para assistir a tiroteios». 

 Deverá ser interessante, mas o que gostava mesmo, é que publicasse, em livro, as crónicas do Expresso e outras que andam por aí espalhadas.

Mas por hoje pego num texto da sua Página em que fala de Alfred Hitchcock e da actriz Tallulah Bankhead:.

 «“Lifeboat” é um filme à deriva no mar da II Guerra. Filmou-o Hitchcock num bote onde meteu nove vidas sem destino. O caos tomou conta do oceano e no salva-vidas, no início, só está uma mulher madura e bela, cabelo, maquilhagem e jóias irrepreensíveis, casaco de arminho, esplêndidas meias de vidro. Tão certo como ser um filme de Hitchcock, uma delicada cinta de ligas mantém essas meias esticadas para que, sem dobras nem refegos, bem torneiem a bela perna.

A mulher é a mais libertina das actrizes, Tallulah Bankhead, e posso jurar que não traz cuecas.

 Também a secreta britânica, o MI5, lhe quis escrutinar o frondoso jardim. Descobriu lá, de uma vez, cinco jovens de Eton, colégio que agora formou os dois príncipes britânicos. O rendez-vous foi no selecto Hotel Café de Paris e o espião alega que ela se terá regalado, em prática imorais e antinaturais, com os cinco, como nunca Enid Blyton imaginaria.

O agente do MI5 jurou que numa só noite pararam 100 limusinas à porta do hotel e também a acusou de lésbica. Tallulah, que sempre lamentou não ter chegado a esse impertinente toque de delicadeza com Greta Garbo, foi peremptória: “Jamais me tornaria lésbica, tanta é a falta de humor que têm!”

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