O meu pai tinha uma grande admiração por Orlando da Costa.
Nunca se conheceram e não tenho ideia de
conversarmos, ao ponto de saber, literatura à parte, dos porquês dessa
admiração.
Dos livros de Orlando
Costa que então estavam lá em casa, só um chegou até aqui: O Signo da Ira. Muitos livros da Bibliotecas tiveram descaminhos
diversos, muitos emprestados por meu pai a amigos presos, em Caxias, pela PIDE.
Alguns livros regressaram, outros não.
Quando li Podem Chamar-me Eurídice, não foi a 1ª
edição da Arcádia que fôra comprada pelo meu pai..
Já contei essa história por aqui e volto a contar:
«Em Olhar as Capas surge a edição da casa de Podem
Chamar-me Eurídice, chancela da Seara Nova, adquirida já depois
do 25 de Abril
Mas a primeira leitura tinha ocorrido antes, livro
emprestado pelo Carlos Alberto que era o campeão da rua no que tocava a livros
«Fora do Mercado».
Nunca revelou como os obtinha mas ninguém se preocupava
com o pormenor.
Um livro de que gostei muito e que me marcou.»
No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o jornal
Público, uma vez por mês, na Colecção
Biblioteca da Censura, publica um livro dos muitos proibidos pela censura
salazarista/caetanista.
Um dos livros da colecção, publicado em Dezembro de 2022,
foi Sete Odes do Canto Comum de
Orlando da Costa.
Nunca li o livro que, segundo ficha elaborada pelo meu
pai, pertencia à Biblioteca da Casa, mas, quando, após a sua morte, fechei a casa, não o encontrei.
Maria Antónia Palla, escritora e ex-jornalista, foi
casada com Orlando Costa, escreveu, sobre Sete Odes do Canto Comum o artigo que aqui se reproduz.
Desse texto, retiro este bonito e ternurento parágrafo:
«Era um homem tolerante, amável, bom conversador. Fugia-lhe o pé para a boémia. Fumava cachimbo. Era um esteta. Vestia com elegância, o fato bem passado, o lenço de seda no bolso do casaco a combinar com a gravata. Em todas as circunstâncias, com mais ou menos dinheiro, mostrava requinte, disposição para divagar, humor.»
A terminar o artigo, Maria Antónia Palla escreve:
«Um grande romancista. Um bom poeta. Um impoluto cidadão.»
Irei ler, pela primeira vez, Sete Odes do Canto Comum de Orlando da Costa.
Neste findar de conversa, permitam-me, que do artigo, repita esta frase:
«Fumava cachimbo».
2 comentários:
Certamente será do conhecimento de todos mas permito-me acrescentar que o Orlando da Costa era o pai do actual 1°.ministro, António Costa.
Estou certo, não estou, Sammy?
Continuando a conversar, podemos fazer o acrescento que o 1º Ministro terá apanhado mais as influências de sua mãe, Maria Antónia Palla, do que do seu pai Orlando da Costa.
Segundo o artigo que Maria Antónia Palla escreveu no Público: ««Orlando da Costa gostava de música. O nome de seu filho António foi buscá-lo a Vivaldi.»
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