quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

XCIII

Se alguma vez o teu peito parar,

se algo deixar de arder nas tuas veias,

se na tua boca a voz morrer sem ser palavra,

se as tuas mãos se esquecerem de voar e adormecerem.

 

Matilde, amor, deixa teus lábios entreabertos

porque esse último beijo deve continuar comigo,

deve ficar imóvel na tua boca para sempre

para que assim na minha morte me acompanhe também.

 

Morrerei beijando a tua boca fria,

abraçando o cacho perdido do teu corpo,

e procurando a luz dos teus olhos fechados.

 

E assim, quando a terra receber nosso abraço

iremos confundidos numa única morte

viver para sempre a eternidade de um beijo.

 

Pablo Neruda em Cem Sonetos de Amor

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