O que acima se lê, consta da página 18 de Laurentinas de João Pedro Grabato Dias, cujo exacto título é: «uma meditação 21 LAURENTINAS e dois fabulários falhados».
A introdução do
livrinho, custou-me 30 escudos, em 1972, numa barraca-alfarrabista que existia
na quase entrada do Parque Mayer em Lisboa, pertence a Maria de Lourdes Cortez
que é ensaísta e poeta, estudou em Lisboa, onde se licenciou em Filologia
Românica na Faculdade de Letras (1956), leccionou no Liceu Pedro Nunes, de
Lisboa, e, de volta a Moçambique, no Liceu António Enes e nos Estudos Gerais e
Universidade de Lourenço Marques (hoje Maputo) e na Universidade Eduardo
Mondlane, do Maputo. Regressou a Lisboa em 1977, ingressando na Universidade de
Lisboa. Leccionou também no Centro de Apoio de Faro e em seminários de
pós-graduação do King's College. Os seus ensaios, de uma diversidade
assinalável – semiologia do barroco literário, em especial o discurso de D. Francisco
Manuel de Melo e dos poetas surrealistas; sobre escritores de Moçambique,
destacando-se os seus trabalhos sobre o erotismo da escrita de José
Craveirinha, João Pedro Grabato Dias e Carneiro Gonçalves; sobre Racine,
Robbe-Grillet ou Roland Barthes; a propósito do ensino das línguas-vivas e do
português a estrangeiros; prefaciando ou escolhendo o posfácio e a recensão
para compreender textos de Jorge de Sena, Martins Garcia, Gastão Cruz, Eugénio
Lisboa, Wanda Ramos, Nadine Gordimer, Carlos Poças Falcão ou Laureano Silveira.
O início da
introdução de Maria Cortez, é este:
«Nascido em Inhaminga em 1933. Mestiço de Hindustano, celta, judeu e
com prováveis avós nos Concheiros de Muge. Parte da infância e adolescência em
Santiago da Galapitões, por onde leu muito Hugo, Camilo, Poison do Terrail e S.
Cipriano. Herbanário e colector de pedrinhas. Gago mas muito dotado para o fado
e para a ociosidade. Funcionou em várias profissões, tais como a pública e a
privada, e é actualmente conselheiro para a África Leste do Comptoir d’ Hygiène
et Beuaté, no sector de Shampooos. Volta nos anos sessenta à África, muito
documentado em Edgar Burro – (ughs!). Acha que a realidade é aqui a sopeira da
fissão. Sem vícios, com hábitos simples mas não mesquinhos. Também já esteve em
Paris.»
Esta é a «biografia» que João Pedro Grabato Dias fez chegar a nossas
mãos. Não que lha tivéssemos pedido, nós que defendemos o primado absoluto da
obra e olhamos o texto como a única totalidade significativa.
No entanto,, a «biografia» aí está no tom exacto exigido pelo autor; e
também vincadamente significativa, porque em perfeita harmonia com o estilo que
as Laurentinas nos entregam.»
Deixo-vos ainda uma laurentina de Grabato Dias:
Necrologia laurentina
Só netos eram quarenta
sonetos pr’aí uns vinte
bolotos plantou algum
o patriarca aos oitenta
sabe que bateu no vinte
e é homem como nenhum
Tem o pelinho na venta
(digo-o sem nenhum acinte…)
E é filiado na un.
Tempo ainda para dizer que
João Pedro Grabato Dias também é conhecido por António Quadros (pintor).
É com esse nome que
aparece uma letra de canção do álbum Eu
Vou Ser como a Toupeira, de José Afonso que o «Musicalíssimo», na sua
edição de 1 de Dezembro de 1972 referia "Eu Vou ser como a Toupeira" um álbum "simples mas quase
genial com canções de simplicidade e muito bom gosto».
É neste álbum que José Afonso deixou «A Morte Saiu à Rua», que evoca o assassínio pela PIDE, do pintor
José Dias Coelho, na Rua da Creche em 19 de Dezembro de 1961.
Mas a canção de
António Quadros (pintor) é «Sete Fadas Me
Fadaram»:
«Sete fadas me fadaram
Sete irmãos m´arrenegaram
Sete vacas me morreram
Outras sete me mataram
Sete setes desvendei
Sete laranjinhas de oiro
Sete piados de agoiro
Sete coisas que eu cá sei
Sete cabras mancas
Sete bruxas velhas
Seter salamandras
Sete cega-regas
Sete foles
Sete feridas
Sete espadas
Sete dores»
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