Por vezes precisamos de ter algo para salvar: um gato, um cão, abandonados na rua, algo importante, ou nem tanto, mas o gosto, a importância de salvar.
Há coisas que
não sabe como explicar. Fala delas, apenas, ou o gosto por ter causas, afectos.
Saber que há pessoas mais generosas do que outras.. Sim, é isso, o olhar para o
lado quando alguém, na rua, estende a mão para uma esmola.
Lembra-se das campanhas para defender o lince da Serra da Malcata de extinção,
ainda hoje são tema por aí, ainda o esperam…
Em Janeiro de
2002, um elevado número de surfistas organizou-se em manifestações e abaixo
assinados numa «Luta pela Onda Perfeita», com origem nuns esporões que a Câmara
Municipal estava a construir na Praia de Santo Amaro de Oeiras, e que iriam
destruir “a melhor onda da costa portuguesa, uma das melhores da Europa”.
Porque muito lhe
diz respeito, lembra no Verão de 1999 a luta dos agricultores de Palmela para
evitar o desaparecimento da maçã riscadinha. Acompanhou a luta e soube do
desânimo dos agricultores. Volta e meia davam-lhe informe de que, algures,
tinham visto maçãs riscadinhas, corria lá mas já não as encontrava. E não sabiam
se chegariam mais,,, esperavam mais…
Mas este ano encontrou-as no merceeiro aqui da rua. Onde haveria de ser? Os
tais merceeiros de que o Orson Welles falava e de que, num mundo selvagem de
hiper e super mercados, ainda haveremos de ter muitas saudades. E em tempos de
crise, como estes que atravessamos, mais ainda. Sim, porque só eles permitem
essa palavra mágica e perversa que se chama rol. Não dizemos à menina da caixa
do Continente: “ponha aí na
conta”!
A maça riscadinha é exclusiva de algumas zonas do concelho de Palmela, a
produção não é elevada e por esse facto não chegam às grandes superfícies. Esta
rapaziada apenas está interessada em grandes quantidades para poderem entrar na
especulação que determina preços baixíssimos aos produtores. Na Lourinhã a
batata sai do produtor a 15 cêntimos., ele que prepara a terra, lança as
sementes, rega, apanha-as. É possível? A batata fica na terra, a batata que
consumimos vem de Espanha e França. E quem fala em batata fala em outros
produtos.
O quilo das maçãs riscadinhas está no Sr. Ferreira a 1,95 euros o quilo.
A luta dos agricultores de Palmela teve êxito ou o seu aparecimento deve-se ao
facto de a partir de 1 de Julho a CEE ter revogado uma das suas muitas
estúpidas determinações?
Sim, essa determinação, com que a fúria normalizadora de Bruxelas nos brinda, e
que estabelecia que, de Portugal à Lituânia, as melancias, os pepinos, qualquer
fruta, qualquer vegetal, teriam que obedecer ao mesmo diâmetro, ao mesmo
feitio.
Mas agora não está preocupado com os porquês e apenas lhe apetece o tempo de
olhar, saborear, as belas maçãs riscadinhas de vermelho, amarelo, verde,
gostosura da sua infância.
Sabor e perfumes únicos, memórias doces.
(22 de Junho de
2009)
Legenda: fotografia tirada daqui.
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