quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

CONVERSANDO

Manuel Alberto Valente, na crónica que publica no Expresso, dedicou uma das últimas (27 de Janeiro) a recordar autores esquecidos.

A crónica começa assim: «O tempo, esse grande escultor, como lhe chamou Yourcenar, é muitas vezes ingrato com certos autores: depois de um período de fama e reconhecimento, aira-os para o caixote do lixo da História.»

E passa a citar Altino do Tojal com os seus «Putos», Américo Guerreiro de Sousa, ManuelFerreira.

Lembra também alguns autores esquecidos que estão a ser republicados como Maria Ondina Braga (Imprensa Nacional), Maria Judite de Carvalho (Minotauro) e lembra ainda A Cidade das Flores de Augusto Abelaira, que há muito se encontrava esgotado.

Mas o interessante da crónica é que Manuel Alberto Valente lembra que o fenómeno do esquecimento de escritores não é apenas português, mania muito nossa, e conta:

«Há alguns anos, conversando na Feira de Frankfurt com uma jovem editora francesa, contei-lhe quão importante havia sido para a minha geração um autor como Roger Vailland. Olhou-me espantada, e confessou que não só não havia lido, como nem sequer conhecia o nome. E era editora… O tempo pode ser um grande escultor, mas também muitas vezes, o barro com que esculpe desfaz-se e é arrastado pelo vento.»

Por Roger Vailland sei bem do que fala o Manuel Alberto Valente.

Reconto a história já aqui deixada em Junho de 2013:

 «Por um antigo Verão, quando ainda havia Verão, em Almoçageme, quando Almoçageme ainda era uma pacata aldeia, numa festa de bombeiros, quando ainda havia festas de bombeiros, o Miguel apareceu com uma rapaziada francesa, altos, médios quadros de uma importante empresa.

 Sandes de isca para um lado, bifanas para outro, caldo verde, pelo meio jarros de vinho tinto.

 Eis senão quando, num assomo de infantilidade a roçar a mais parva das idiotices, lembrei-me de questionar os franceses sobre se conheciam Roger Vailland, Camus, Roger Martin du Gard, Georges Brassens, Jean Ferrat, enfim, uma cachoeira de escritores e cantores franceses, a que os rapazes, rigorosamente, disseram nada.

 Boca-comentário mandada para o lado: ainda dizem que os portugueses é que são ignorantes!...

 Corria o ano de 2007, Baptista-Bastos numa entrevista ao Público, dizia:

 Há tempos estive em França e perguntei: “Como é que vamos de Roger Vailland. E ninguém sabia quem era. Vai fazer agora 100 anos!”».

4 comentários:

Seve disse...

Lembro-me que (há miito tempo) li Roger Vailland e, desse livro, apenas memorizei que se falava de uma etapa de ciclismo no Tour de France. E sei que gostei do autor.

Sammy, o paquete disse...


Por aqui, na etiqueta «Roger Vailland- livros» encontra os livros de Vailland que pertencem à «Biblioteca da Casa». Uma influência nítida do meu pai que leu todo o Vailland em francês. Eu que nunca toquei piano, nem falo francês, tive que andar por aí à procura de todas as traduções e fui conseguindo.
O livro de que o Seve fala é «325.000 Francos»
Começa assim:
«O circuito ciclista de Bionnas é disputado todos os anos, no primeiro domingo de Maio, pelos melhores amadores de seis departamentos: Ain, Ródano, Jura e as duas Sabóias. É uma prova dura. Os corredores têm de vencer por três vezes o desfiladeiro da Cruz Rubra, a 1.250 metros de altitude. Tem acontecido várias vezes que o vencedor do circuito de Bionnas brilhe, como profissional, no Paris-Lille, Paris-Bordéus, na Volta à Itália, na Volta à França.»
José Cardoso Pires foi largamente influenciado por Roger Vailland.


Seve disse...

Espectacular - foi mesmo este 325.000 francos, creio que era daquela colecção de livros de bolso da Europa-América (seria?)

Sammy, o paquete disse...

A edição que tenho dos «325.000 Francos», é da Portugália Editora s/d.
Tanto quanto posso lembrar, os livros de bolso da Europa América, do Roger Vailland apenas publicaram «A Lei» nº 101 dessa colecção.