sexta-feira, 15 de setembro de 2023

O OUTONO QUE ESTÁ CHEGAR



Aproxima-se o Outono, a estação preferida de Woody Allen tal como escreve na sua autobiografia: «O Outono é uma questão completamente diferente, mas não menos emocional. Para mim, é a altura do ano mais bela».

Woody Allen esteve ontem na Cinemateca à conversa com Ricardo Araújo Pereira, seguindo-se a exibição de «Mannhatan de que gosto muito.

 Quando me falaram que a conversa ia acontecer, pensei em ir.

Primeiro porque entendi mal e pensei ser uma conversa do Ricardo a falar de Allen. Era um diálogo sem tradução e o meu inglês-cais-do-sodré, não dá para tanto. Por fim, pensei que aquilo seria um Kaos, não só pelo realizador  Tenho o meu público fiel e limitado", Mas mais por causa dos admiradores de Ricardo Araújo Pereira.

Metade da sala da Cinemateca destinava-se a convites e a bicha para adaquirir os bilhetes, segundo os jornais, chegava à Aveniva da Liberdade.

A maior pena que me resta é que seria, provavelmente, a última vez que podia ver «Manhattan» na sala escura de um cinema.

Mas o Outono está a chegar, com ele o suave e maravilhoso cheiro das maçãs-reineta assadas no forno, da marmelada nova.

Sempre lembro de me perguntar: os marmelos anunciam o fim do Verão ou o princípio do Outono?

Uma pergunta, como outra qualquer, e para a qual não se exige resposta.

A minha avó fazia a marmelada no findar de Setembro.

Ficava sempre uma tigela guardada para a véspera de Natal.

Também enchia grandes frascos com quartos de marmelo que eram cosidos em água e açúcar.

José Gomes Ferreira a abrir, 1 de Outubro de 1965 o 1º volume dos seus Dias Comuns:

«Entreguei há 3 dias, na Portugália, (e com que desalento desabrido) o meu Diário Inventado. E hoje, talvez para amortecer este fogo frio, que tanto me tortura nas antevésperas da publicação de livros novos, acordei a perguntar-me; “e se eu agora escrevesse (mas só para mim) um diário real dos dias comuns – no seguimento do fadário diarístico que me persegue desde a infância?” (Diários, diários, diários!....). Demais, está uma manhã de sol dourado, com folhas secas a apodrecerem o chão de amarelo e aquele brisa fina de haver alguém no ar a esgrimir um florete de toque invisível que nos arrepia a pele – tema mesmo de propósito para esta primeira página. Pois, se bem me recordo, quase todos os meus diários do passado nasceram sob o signo do friozinho outonal e dos marmelos assados – oferecidos no lusco-fusco dos pregões friorentos de Lisboa… Mas vou desfazer o tema. Basta de literatura e de marmelada.»

Legenda: a imagem, fotografia de Rui Gaudêncio no Público, mostra parte do Kaos à porta da Cinemateca.

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