(Junto a minha voz ao coro dos poetas mais novos.
Recuso-me a ter mais de vinte anos.)
Não, não queremos cantar
as canções azuis
dos pássaros moribundos.
Preferimos andar aos gritos
para que os homens nos entendam
na escuridão das raízes.
Aos gritos como os pescadores quando puxam as redes
em tardes de fome pitoresca para quadros de exposição.
Aos gritos como os fogueiros que se lançam vivos nas fornalhas
para que os navios cheguem intactos aos destinos dos outros.
Aos gritos como os escravos que arrastaram as pedras no Deserto
para o grande monumento à Dor Humana do Egipto.
Aos gritos como o idílio dum operário e duma operária
a falarem de amor
ao pé duma máquina de tempestade
a soluçar cidades de fome
na cólera dos ruídos...
Aos gritos, sim, aos gritos.
E não há melhor orgulho
do que o nosso destino
de nascer em todas as bocas...
...Nós, os poetas viris
que trazemos nos olhos
as lágrimas dos outros.
José Gomes Ferreira em Poesia I
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