Disse numa entrevista:
«Ir
ao café é um ritual absolutamente sagrado, desde que me conheço. Comprar o
jornal e tomar um café, todos os dias. É impensável não o fazer. Fico uma hora
a ler o jornal. Fiz parte da minha vida em café, estudei em cafés, li
quilómetros de livros em cafés, mesmo com o barulho das pessoas.»
E conclui: «Hoje somos mais livres mas vivemos mais perdidos.»
Por cafés, um texto, «O Dr. Carlos e os
Políticos», tirado de Os Criptogâmicos
do Eduardo Valente da Fonseca:
«Uma mesa de café. Em volta, cabeças em surdina. A conspiração dos políticos, sempre às mesmas horas. Os bolsos cheios de naftalina. O Dr. Carlos, com uma dessas caras que servem de apresentação a um ideal político, entrava no café com ar de segredo já sabido por todos, e soprava a novidade suficientemente alto para ficar gravada no ouvido mais distante da sala. No final das reuniões concluíam todos cheios de sossego, que, infelizmente, a revolução não era para já. O Dr. Carlos precisava de apodrecer na sua quinta dos arredores. Todos eles precisavam de apodrecer nos arredores ou ali, mas o que todos levavam era muito tempo.»
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