domingo, 26 de fevereiro de 2012

BENFICA

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Sou do Benfica desde que me lembro, mas só me fiz sócio uns dias após o jogo Bayern-Benfica de 1981, para a Taça dos Campeões Europeus. O meu pai é Benfiquista, disfarça muito, mas sofre mais do que eu, mas nunca foi sócio, por isso nunca incentivou a minha filiação no clube. Eu sou benfiquista por influência do meu pai, mas sou sócio desde 1981 por opção minha, e tomei-a no dia em que “levámos” 4-1 do poderoso Bayern, porque achei que era nessa altura que o Benfica mais precisava de mim, após as vitórias aparecem sempre muitos para festejar, mas quando a coisa corre mal só ficam os mais convictos. Nas relações pessoais, isso também acontece, mas felizmente que ainda há muita gente que não abandona um familiar ou amigo, apenas porque este adoeceu, mesmo que reconheça que parte da culpa é do próprio, por não ter tomado as devidas precauções. Também me lembro do dia em que o Benfica foi goleado em Alvalade por 7-1, estava na Força Aérea, na Base das Lajes, e ouvi o relato, na camarata,  ao pé do meu camarada de especialidade, que era um Sportinguista ferrenho, e que me gozou, como eu o teria feito se fosse ao contrário, mas nesse mesmo momento apostei com ele um jantar em como o Benfica seria campeão, e foi um belo jantar que comi, passado uns meses, na Praia da Vitória, à conta do lagarto !
O Benfica empatou ontem com a Académica, desperdiçou oportunidades de golo, e foram lhe negados dois penaltys, um deles claríssimo, sobre Aimar, transformado em falta deste, nada que não tivesse começado há umas jornadas atrás, se nos lembrarmos do penalty inventado por Jorge Sousa, num jogo em que o Benfica acabou por golear, mesmo contra a vontade do juiz “super-dragão”. Mas os árbitros não ganham nem perdem jogos, apenas os podem tornar mais fáceis ou mais difíceis, uma equipa boa e com vontade, tem que saber dar a volta a essas situações. Quando uma equipa não tem sucesso, nem sempre é por razões científicas que alguns gostam de inventar, faz parte do jogo, há duas equipas em campo, com objectivos contrários, e há sempre três resultados possíveis, da forma mais natural do mundo. A minha prática desportiva, embora noutra modalidade, como atleta e especialmente, há vários anos, como treinador, permite-me ter uma visão mais aproximada da realidade competitiva, semanalmente tenho que tomar decisões para o início dos jogos, e durante estes, e estas nem sempre resultam, mas é assim, há coisas que na teoria parecem perfeitas, mas depois há a intervenção humana, nossa e do adversário, e esta felizmente não é sempre igual, se não o desporto perdia a sua beleza. Claro que há aqueles que gostam de grandes análises, e têm sempre a certeza de como se deveria fazer para ganhar, são os que acertam sempre nos números do Euromilhões à segunda-feira. São os que nunca perdem, mas também nunca ganham, porque nunca colocaram as suas ideias em jogo, ou na maior parte dos casos, os seus disparates disfarçados de teorias de grandes conhecedores que fazem rir qualquer um que perceba minimamente da poda. Jorge Jesus é um grande treinador, o Benfica joga um futebol consistente, perde muito poucas vezes, e os jogadores melhoram quando são treinados por si, e isto tem muito mérito, pois não falamos de escalões de formação, fazer evoluir um sénior não é tarefa para qualquer um. JJ tem um défice de cultura geral, é verdade, nasceu e cresceu num bairro operário, na Venda Nova, para meia dúzia poder estar cheio de conhecimentos, a maioria inúteis, é inevitável que  muitos milhões tenham que ficar incultos, é o resultado das opções de sociedade, que alguns sempre defenderam e agora cinicamente parecem condenar. JJ teve que subir a vida a pulso, o futebol tirou-o de uma vida no limiar da pobreza, e parece que não lhe perdoam isso, ele não domina as regras do discurso, é arrogante, mas é competente, no fundo ele, que até é Sportinguista, representa toda a essência do Benfiquismo, veio do povo e é do povo, o Benfica era vermelho no tempo do fascismo, e era democrático no tempo da ditadura, ergueu-se pela força braçal, para mim mais do que um clube, encarna, como não podia deixar de ser, o um ideal, foi a vitória de um clube do povo sobre o clube da nobreza, a vitória dos que não tinham campo para jogar, sobre o clube que nasceu rico.
Por tudo isto, eu nunca deixarei o meu clube ficar mal, por tudo isto eu festejo as vitórias do meu Benfica, mas sinto-me muito mais Benfiquista nos maus momentos, e que diabo, estamos em primeiro ! Graças à generosidade amiga, irei ter o privilégio de assistir ao próximo Benfica-Porto, e nenhuma situação me daria mais convicção do que a actual, lá estarei para ganhar ou perder junto do meu clube, no místico estádio do Sport Lisboa e Benfica ! com uma certeza, após o jogo continuaremos a ser o Glorioso !

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa prosa, digo eu que até nem gosto de futebol!
E já agora, bom jogo e... que ganhe
o melhor.
M.Júlia

Anónimo disse...

Amigo Paulo,

Se o seu benfiquismo se consolida com as derrotas, o nosso desejo é que ele se consolide, consolide, consolide eternamente...

Cumprimentos,

Vitor Pereira

Anónimo disse...

SEcundo comentário anterior!

Pinto da Costa

aida disse...

Caro Jack,
Sobre o teu texto, o comentário da Maria Júlia diz tudo, e muito bem dito.
Eu tenho a acrescentar que era para não ir ao jogo, mas o teu texto fez-me mudar completamente de ideia.
Lá nos encontraremos.
Obrigado.
Beijinhos