Muito lhe agradeço Eugénio a prosa que escreveu, e que
a tenha escrito. Sem que isso implique juízos de valor a meu próprio respeito,
gosto muito dela – e só lhe pediria que cortasse aquela da «nostalgia do
catolicismo» (que é livre de manter se acha que não tenho razão) que já tem
dado, ao longo dos anos, equívocos demasiados. O que nos meus primeiros livros
apareceu, foi uma série de poemas irónicos, precisamente para libertação do que
acaso existia de tal em mim, e que não sinto que haja. Nostalgia, afim, se a
tenho, é de que a religião seja humanamente impossível. E nisso o catolicismo
tem muito pouco ou nada. Se a nós sempre parece que essas questões se equacionam
em termos dele, é porque na nossa tradição, não temos outros (e alguns anos de
contacto com o protestantismo no Brasil e nos Estados Unidos mostram-me que a
mentalidade protestante é ainda mais odiosa). E, pela minha parte, nunca senti
senão repugnância pelas religiões orientais e extremo-orientais, tão em moda
agora.
Carta de Jorge
de Sena, 18 de Fevereiro de 1968, para Eugénio de Andrade em Correspondência
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