O Caso do Olho de Vidro
Erle Stanley
Gardner
Tradução: Lino Vallandro
Capa: Cândido
Costa Pinto
Colecção Vampiro
nº 33
Livros do
Brasil, Lisboa s/d
- Os procuradores distritais têm o hábito de desejar
obter condenações. É natural. A polícia reúne as provas e depõe-as no regaço do
procurador do distrito. A ele compete obter a condenação. Na realidade, a fama dum
procurador do distrito baseia-se na percentagem de condenações sobre o número
de processos julgados.
- Continue – disse Mason.
-Quando assumi este cargo – disse Burger – quis ser
consciencioso. Tenho horror a acusar uma pessoa inocente. A sua actuação
impressionou-me. Você, provavelmente, não concordará com a conclusão a que
cheguei a esse respeito.
- Qual é a conclusão – interrogou mason.
- Que você é melhor detective do que advogado, e isso
não importa desdouro à sua capacidade jurídica. A sua técnica forense é hábil,
mas inteiramente baseada numa solução correcta do caso, previamente alcançada.
Quando você recorre a estratagemas pouco ortodoxos, como parte da sua tática
forense, reprovo-os; mas quando os emprega para obter uma solução correcta para
o mistério, aplaudo-os. Eu tenho as mãos atadas. Não posso recorrer a táticas
arbitrárias, espectaculares. Às vezes desejaria fazê-lo, especialmente quando acho
que uma testemunha está a mentir acerca da identidade de um criminoso.
Mason disse lentamente:
- Uma vez que você está a ser franco para comigo,
coisa que nenhum outro procurador do distrito jamais fez, vou ser franco para
consigo, coisa que, diga-se de passagem, eu nunca me dei ao trabalho de fazer
com qualquer outro procurador do distrito. Não pergunto a um homem se ele é
culpado ou inocente. Quando consinto em representá-lo, recebo-lhe o dinheiro e
trato do seu caso. Culpado ou inocente, ele tem o direito de ser defendido; mas
seu chegasse à conclusão de que um dos meus clientes era realmente culpado de
homicídio e não estava moral ou legalmente justificado, faria esse cliente
confessar o crime e confiar-se à clemência do tribunal.
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