Aforismos & Desaforismos de Aparício
José Rodrigues
Miguéis
Organização e
Introdução de Onésimo Teotónio Almeida
Círculo de
Leitores, Lisboa, Maio de 1996
18 de Abril de 1978
Todos falam de «liberdade», como se a tivessem
inventado, restabelecido ou merecido. Mas se eu não afivelar a máscara de um
partido nem agitar o pendão de uma seita, serei sem demora ignorado, suprimido
ou oprimido pela mais vil das armas políticas (ou fascistas!), que é o boicote
ou o silêncio; pela crítica caluniosa ou degradante; ou pior que tudo isso,
pela impossibilidade de publicar. Não terei jornal, nem editor, nem lugar ao
sol. Cada grupo, facção ou quadrilha que se apodera dos postos de comando nas
instituições públicas ou privadas onde se dispõe das vidas, carreiras e
reputações dos cidadãos, exerce a seu modo, e na medida dos seus rancores, as
funções que ontem cabiam ao ditador, ao censor e aos seus agentes policiais,
impondo gostos, ideias, modas e ofícios.
Por isso eu me refugiei neste jornal de esquerda
pluralista, onde encontro até a liberdade de escrever por vezes aquilo em que
com ele não estou de acordo – porque a ninguém, nem a mim mesmo, reconheço a
virtude de possuir toda a verdade. Deixei assim aos «neutros» e/ou
«indiferentes», que ontem bajulavam ou serviam obedientemente os bonzos da
tirania, o privilégio de passar a bajular ou servir os semideuses e mandarins
do presente: servindo-se a si próprios, no processo, pela sua aptidão a serem
amigos-toda-a-gente – o que os não obriga a serem amigos de ninguém.
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