Um casaco também
pode vir à tona de água depois da tempestade.
Do seu velho
casaco, fala Patti Smith no último dos textos de M Train que tenho vindo a
reproduzir desde 16 de Junho do ano passado, data do Olhar as Capas.
Despedimo-nos de
Patti Smith, voltaremos com outro livro, outro autor.
Será Sebastião
da Gama e páginas do seu Diário.
Mas o texto de
Patti Smith fez-me voltar à despedida do meu casaco de lá, texto aqui publicado
em 21 de Junho de 2015, quando ainda não tinha lido M Train.
«É tempo de
dizer, agora que o Verão chegou e está um calor de ananases, que o meu velho
casaco de lã, fez o seu último Inverno.
Pela Primavera
agora finda, ainda o vesti porque o sol andou por ela dentro com uns farrapos
meio parvos e à noite apetecia uma lãzinha.
Comprei-o na
primeira Festa do Avante realizada, em 1990, na Quinta da
Atalaia, no pavilhão de Vila do Conde e sempre me cheirou a mar.
Quando senti que
andava a dar as últimas, tentei, por diversas vezes, encontrar um outro
semelhante, mas nunca consegui.
Olhava-os mas
sentia logo que não correspondiam à imagem e cheiro do meu velho casaco.
Nos últimos
invernos, a Clementina, minha sogra, foi-o gatando com uns pedaços de lã e
linha, disfarçava, mas não vai dar mais.
A minha neta
Maria, já no passado ano, dissera que o avô anda tão mal vestido.
Tentei
explicar-lhe que me sentia maravilhosamente bem dentro daquele casaco mas ela
mandou-me um tá bem abelha!
O próximo
Inverno já não me encontrará com ele vestido.
Não sou de
lágrima fácil, mas senti necessidade de lhe deixar, como profundo
agradecimento, um adeus e acrescentar-lhe esta velha canção da Dolly Parton.
Também a
esperança que um dia encontre um substituto à altura do seu conforto.
Pelo andar da
carruagem, débil esperança…
Ou por outra: resta-me a desesperança de não mais entrar num casaco assim.»
Ou por outra: resta-me a desesperança de não mais entrar num casaco assim.»
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