sexta-feira, 7 de abril de 2017

OLHARES


Por princípios de Abril, o Tejo era palco do desfile dos embandeirados arrastões da pesca do bacalhau que partiam para as longas e penosas campanhas na Terra Nova e na Gronelância.

«Formam uma verdadeira procissão no mar» disse D. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo de Mitilene, que durante anos e anos presidiu à missa, no Mosteiro dos Jerónimos e à bênção dos lugres, no ano de 1952.

Nesse ano de 1952, partiram 2.800 pescadores e o Arcebispo terminou a cerimónia, dizendo:

«Amigos, boa viagem e até à volta! Que o Senhor vos leve e que o Senhor vos traga!»

Henrique Tenreiro, um-dos-donos-disto-tudo-em-tempo-de-ditadura, escolhia um grupo de pescadores, as suas camisas de flanela aos quadrados, que visitavam Salazar que os recebia «com muita simpatia, demorando-se alguns minutos a conversar com os pescadores» e lhes oferecia amêndoas e cálices de Vinho do Porto.

Todos os anos recortava essas notícias e guardava-as.

Perdi esses recortes. Como tantos outros, sobre outros temas, que fiz por esses tempos.

Tinha-os guardado, em caixas, na dispensa em casa de meus pais. Um dia, minha mãe com a sua mania de limpezas e arrumações, sem me de dizer nada, considerou tudo aquilo lixo e para o lixo foram.

Se quiser encontrar uma explicação por este interesse sobre notícias referentes à pesca do bacalhau, talvez a situe na leitura maravilhada que, tinha para aí uns 15 anos, fiz do livro Nos Mares do Fim do Mundo, de Bernardo Santareno.

Foi deste modo  empolgante que o jornalista do Notícias de Portugal, no ano de 1953, abria a reportagem sobre a bênção e a partida dos bacalhoeiros.

Legenda: a fotografia de Salazar com os pescadores é tirada do Notícias de Portugal de 9 de Abril de 1966. 

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