Por princípios
de Abril, o Tejo era palco do desfile dos embandeirados arrastões da pesca do
bacalhau que partiam para as longas e penosas campanhas na Terra Nova e na Gronelância.
«Formam uma verdadeira procissão no mar» disse D. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo
de Mitilene, que durante anos e anos presidiu à missa, no Mosteiro dos
Jerónimos e à bênção dos lugres, no ano de 1952.
Nesse ano de
1952, partiram 2.800 pescadores e o Arcebispo terminou a cerimónia, dizendo:
«Amigos, boa viagem e até à volta! Que o Senhor vos
leve e que o Senhor vos traga!»
Henrique
Tenreiro, um-dos-donos-disto-tudo-em-tempo-de-ditadura, escolhia um grupo de
pescadores, as suas camisas de flanela aos quadrados, que visitavam Salazar que
os recebia «com muita simpatia, demorando-se alguns minutos a conversar com
os pescadores» e lhes oferecia amêndoas e cálices de Vinho do Porto.
Todos os anos
recortava essas notícias e guardava-as.
Perdi esses recortes.
Como tantos outros, sobre outros temas, que fiz por esses tempos.
Tinha-os
guardado, em caixas, na dispensa em casa de meus pais. Um dia, minha mãe com a
sua mania de limpezas e arrumações, sem me de dizer nada, considerou tudo
aquilo lixo e para o lixo foram.
Se quiser
encontrar uma explicação por este interesse sobre notícias referentes à pesca
do bacalhau, talvez a situe na leitura maravilhada que, tinha para aí uns 15
anos, fiz do livro Nos Mares do Fim do Mundo, de Bernardo Santareno.
Foi deste modo empolgante que o jornalista do Notícias de Portugal, no ano de 1953, abria a reportagem sobre a bênção e a partida dos bacalhoeiros.
Legenda: a
fotografia de Salazar com os pescadores é tirada do Notícias de Portugal de
9 de Abril de 1966.
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