Conheci o William Burroughs quando tinha cerca de 22
anos, no Chelsea Hotel. Eu era bastante nova e o William costumava vir ao hotel
com o seu sobretudo negro, as suas camisas e gravatas, e achei que era muito
digno e tinha uma paixoneta colegial por ele… Costumava segui-lo por toda a
parte e ele costumava dizer-me: «Bem, tu sabes que eu prefiro rapazes…», mas eu
respondia-lhe «Tudo bem, eu vou ser a tua miúda de qualquer das maneiras…»
Tornámo-nos grandes amigos e ele apoiou muito o meu trabalho. Costumava vir ao
CBGB e sentar-se lá, nos primeiros tempos. Foi um grande amigo até morrer, visitei-o
até ao fim da vida. Oliver e eu fomos ao seu funeral e está sempre na minha
cabeça. Sempre adorei o seu trabalho, mas a maior influência que William
Burroughs teve em mim foi uma influência humana. Ele tinha muita dignidade e
sempre ensinou uma coisa: «Tem um bom nome, esforça-te por fazer bom trabalho»,
mas, em termos de sucesso… Para ele, sucesso era: se uma cidade que ele queria
visitar o convidasse, mesmo que não tivessem dinheiro nenhum, mas a cidade o
trouxesse e o tratasse bem, se lhe dessem algum café. Jantar, um pouco de vinho
e amizade, ele actuava. Foi por isso que as coisas correram bem para mim. Vim a
Lisboa, convidaram-me para o festival e foi um acto mútuo de fé. Não é um
trabalho oficial, mas trouxeram-me cá e trataram-me muito bem, como uma amiga,
e em troca eu faço o meu trabalho.
Patti Smith em
Outubro de 2007.
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