sexta-feira, 21 de abril de 2017

INFLUÊNCIA HUMANA


Conheci o William Burroughs quando tinha cerca de 22 anos, no Chelsea Hotel. Eu era bastante nova e o William costumava vir ao hotel com o seu sobretudo negro, as suas camisas e gravatas, e achei que era muito digno e tinha uma paixoneta colegial por ele… Costumava segui-lo por toda a parte e ele costumava dizer-me: «Bem, tu sabes que eu prefiro rapazes…», mas eu respondia-lhe «Tudo bem, eu vou ser a tua miúda de qualquer das maneiras…» Tornámo-nos grandes amigos e ele apoiou muito o meu trabalho. Costumava vir ao CBGB e sentar-se lá, nos primeiros tempos. Foi um grande amigo até morrer, visitei-o até ao fim da vida. Oliver e eu fomos ao seu funeral e está sempre na minha cabeça. Sempre adorei o seu trabalho, mas a maior influência que William Burroughs teve em mim foi uma influência humana. Ele tinha muita dignidade e sempre ensinou uma coisa: «Tem um bom nome, esforça-te por fazer bom trabalho», mas, em termos de sucesso… Para ele, sucesso era: se uma cidade que ele queria visitar o convidasse, mesmo que não tivessem dinheiro nenhum, mas a cidade o trouxesse e o tratasse bem, se lhe dessem algum café. Jantar, um pouco de vinho e amizade, ele actuava. Foi por isso que as coisas correram bem para mim. Vim a Lisboa, convidaram-me para o festival e foi um acto mútuo de fé. Não é um trabalho oficial, mas trouxeram-me cá e trataram-me muito bem, como uma amiga, e em troca eu faço o meu trabalho.

Patti Smith em Outubro de 2007.

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