Noites de Festa
Cesare Pavese
Tradução:
Rosália Braamcamp
Colecção Catavento
nº 10
Editorial Minerva, Lisboa, 1964
Subia o caminho da colina e os antigos cenário de
verde e de pequenos muros, à medida que surgiam nas curvas, pareciam fingidos.
Tanto tempo que tinha vivido longe, pensando nesta
paisagem apenas em certos instantes de distracção, que a sua actualidade
material me fazia agora o efeito de um símbolo do passado.
Mas não eram símbolos a brisa da tarde e o cheiro
daquela terra. Voltava a encontrara aqui, corporalmente, a atmosfera da minha
juventude, porque estas coisas nunca as tinha esquecido, e em longínquas
províncias ou nas avenidas das cidades, muitas vezes tinha farejado o ar, como
saboreando outros tempos.
Também a voz ao telefone não tinha sido um símbolo.
Tinha-me feito estremecer, tanto me soara ao ouvido nítida e fiel à recordação.
Provavelmente, Ginia não estaria conservada como a sua voz. A voz, é como o
cheiro do nosso corpo, tudo quanto temos de mais inalterável. Mas não teria
reconhecido Ginia, julgo, nem pelo cheiro nem tão-pouco pelo perfume.
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