terça-feira, 18 de abril de 2017

OLHAR AS CAPAS


A Cinco Horas da Morte

Hartley Howard
Tradução: Mascarenhas Barreto
Capa: Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº  186
Livros do Brasil s/d

Um destes dias, ainda acabo por largar este ofício! Não oferece o mínimo futuro. Em primeiro lugar, um tipo que acaba de festejar o trigésimo sétimo aniversário deve compreender que o trabalho e o sentimento não são compatíveis, sobretudo quando se trata deste género de trabalho; e, em segundo lugar, que, se continuo a ser sentimental, terei de aprender a tocar harpa, pois precisarei disso para responder às perguntas de São Pedro, quando me apresentar à porta do Paraíso.
Tinha digerido em paz dois pratos de caldo de legumes e um bife mal passado e achava-me perto da janela, refastelado na minha poltrona giratória, a ver a chuva cair, lá fora.
Enquanto sorvia o meu bourbon favorito não pensava em coisa alguma o que constituía o meu único passatempo havia três semanas. Conhecera uma época em que me teria amaldiçoado a mim próprio, por viver em tal ociosidade, mas a minha consciência deixara de dar-me dores de cabeça. Já descobrira o que ela era: uma vòzinha repetindo calmamente: «Não te safarás com a facilidade que pensas!»
Mas isto só até casar porque haveria uma mulher empenhada em não nos deixar cometer qualquer deslize. Eu cá não sou casado. Prefiro continuar solteiro e ser eu próprio a admoestar-me. É uma maneira de viver agradável que recomendarei a meus filhos.

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