A Cinco Horas da Morte
Hartley Howard
Tradução:
Mascarenhas Barreto
Capa: Lima de
Freitas
Colecção Vampiro
nº 186
Livros do Brasil
s/d
Um destes dias, ainda acabo por largar este ofício!
Não oferece o mínimo futuro. Em primeiro lugar, um tipo que acaba de festejar o
trigésimo sétimo aniversário deve compreender que o trabalho e o sentimento não
são compatíveis, sobretudo quando se trata deste género de trabalho; e, em
segundo lugar, que, se continuo a ser sentimental, terei de aprender a tocar
harpa, pois precisarei disso para responder às perguntas de São Pedro, quando
me apresentar à porta do Paraíso.
Tinha digerido em paz dois pratos de caldo de legumes
e um bife mal passado e achava-me perto da janela, refastelado na minha
poltrona giratória, a ver a chuva cair, lá fora.
Enquanto sorvia o meu bourbon favorito não pensava em coisa alguma o que constituía o meu
único passatempo havia três semanas. Conhecera uma época em que me teria
amaldiçoado a mim próprio, por viver em tal ociosidade, mas a minha consciência
deixara de dar-me dores de cabeça. Já descobrira o que ela era: uma vòzinha repetindo
calmamente: «Não te safarás com a facilidade que pensas!»
Mas isto só até casar porque haveria uma mulher
empenhada em não nos deixar cometer qualquer deslize. Eu cá não sou casado.
Prefiro continuar solteiro e ser eu próprio a admoestar-me. É uma maneira de
viver agradável que recomendarei a meus filhos.
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