4 de Agosto de
1975
NO APONTAMENTO
que José Saramago escreveu para a edição de 1 de Agosto do Diário de
Notícias lia-se:
O que está em curso é, nem mais nem menos, uma grande
manobra nacional de traição, ligada a uma grande manobra internacional de
corrupção e intriga.
O presidente
Ford, em Washington, acusava a União Soviética de auxiliar sub-repticiamente os
comunistas em Portugal e lamentava que a CIA não pudesse interferir livremente
em Portugal.
SOB A AMEAÇA de
populares cerca de 40 militantes do PCP foram evacuados da sede do partido em
Vila Nova de Famalicão.
Na Póvoa do Lanhoso
centenas de pessoas lançaram-se ao assalto das sedes do PCP e do MDP/CDE.
CERCA DE VINTE E
CINCO MIL manifestantes tomaram parte numa manifestação de cristãos da diocese
de Coimbra, em que Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Gonçalves foram apupados.
A abstenção nesta hora seria um crime, pois a hora é
de acção, disse D. João Saraiva,
bispo de Coimbra.
NOS IDOS DE JULHO ficámos a saber que Otelo, no
regresso da sua viagem a Cuba, declarou que Mário Soares era a mais segura
esperança da direita.
Em 1976, Dominique Pouchin, à conversa com Mário
Soares lembrou-lhe a afirmação, e Soares disse:
Tive sempre um certo fraco por Otelo. O seu lado
quixotesco e quimérico tornava-o, quanto a mim, mais simpático do que
inquietante. Sempre me pareceu um personagem generoso e espontâneo, um militar
corajosos, mas um péssimo político. A imprensa prestou-lhe um muito mau serviço
suscitando as suas reacções a propósito de tudo e de nada, o que contribuiu
para dar dele a imagem de um homem inconsequente. É-o efectivamente, e isso
valeu-me algumas dificuldades quando acusou o embaixador americano de ser um
agente da C.I.A., declarando, que, por isso, não estava em condições de poder
garantir a sua segurança. Os seus arrebatamentos e as suas saídas intempestivas
feriram os sentimentos profundos do Povo Português, que, durante algum tempo,
levou a sério as suas ameaças. Os seus volta-faces contínuos e as suas
piscadelas de olho à extrema-esquerda acabaram por o desconsiderar aos olhos de
muita gente. Otelo foi sempre um homem imprevisível que a pouco e pouco perdeu
o pé nas águas turvas onde em certo momento vegetou perigosamente a nossa
revolução. Não tinha a menor cultura política e chegou a lamentar,
curiosamente, que a sua falta de formação o impedisse de ser um «Fidel de Castro
português, ou mesmo europeu»…
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
- Portugal:
Que Revolução, Mário Soares em Diálogo com Dominique Pouchin,
Perspectivas e Realidades, Lisboa, Abril de
1976.
Sem comentários:
Enviar um comentário