José Luandino Vieira
para a elaboração dos Papéis da Prisão,
contou com uma equipa de organização constituída por Margarida Calafate
Ribeiro, Mónica V. Silva, Roberto Vecchi. A equipa finaliza o livro com uma
longa entrevista com Luandino Vieira que serve como ajuda para se perceber o
mundo de fragmentos que este livro constitui.
Esta é a última
abordagem aos Papéis da Prisão que
iniciámos a 13 de Dezembro do ano passado.
Um livro de uma
importância transcendente na longa luta, portuguesa e angolana, contra a
ditadura salazarista/marcelista que durante perto de 50 anos oprimiu o povo
português e os povos das Colónias.
Tentámos reproduzir o
que nos mereceu atenção e permitiu uma transcrição que não fosse muito longa.
No texto de hoje, a
equipa pergunta a Luandino Vieira se está tudo reflectido nos Papéis. A resposta saiu assim:
O que não está… Eu tinha o privilégio de ter uma senhora caboverdiana a
fornecer-me o leite, desde que cheguei. Essa história de Ana de Tchumtchum é a
de uma muito lenta conquista de amizade, que se transforma em cumplicidade. A
outra é a de domesticar um pardal. Domestiquei um pardal, nenhum pássaro é
fácil, mas um pardal… Fazia parte das estratégias de conquistar o tempo. E
demorou-me tanto tempo a ganhar a confiança de nhá Ana como do pardal. A nhá
Ana permitiu-me tirar toda a papelada para fora, pouco a pouco; o pardal deu-me
um estatuto, sobretudo diante dos caboverdianos: «Aquele ali é mágico), porque efetivamente
o pardal aparecia e pousava no meu ombro. Estávamos todos, os presos,
perfilados, para fazer a chamada para entrar na caserna e, de repente, vinha um
pardal de um lado qualquer e pousava, pum! E os caboverdianos, da cozinha, a
dizer: «Aquele ali é bruxo!». Por causa do pardal…
Legenda: José Luandino Vieira
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