domingo, 20 de agosto de 2017

A VONTADE DE BRINCAR, DE RIR, DE ESTAR DESATENTO...


«Ponha-se na rua!» «Não ligam nenhuma ao que a gente diz». Ali está uma solução errada e aqui uma visão, também errada, de um problema que é um caso sério. Em grande parte dos casos, quem devia ir para a rua era eu, era o professor; eles não ligam nenhuma, em grande parte dos casos, porque não pode interessar-lhes o que nós queremos impingir-lhes à força.
(…)
- Afinal vocês não estão a ouvir-me…
- Olha só agora é que deu por isso…
O Artur abriu-me os olhos: talvez quinze estivessem interessados; os outros quinze estavam a pensar noutra coisa. Confesso a minha culpa: fiquei aborrecido; confesso a inteligência da minha solução; terminei imediatamente a lição. Mas eu fiquei provavelmente (pelo menos de momento) aborrecido com eles; e isso é um erro, um gravíssimo erro. Pois de quem foi o pecado senão meu, que julguei que aquilo, naquele momento, poderia interessá-los? Tudo isto é um caso muito sério, como eu disse de princípio; constantemente nos esquecemos de que não temos 14 anos ou calculamos mal os gostos dos rapazinhos de 14 anos. Por outro lado, há dias em que nada poderá fazer deter a sua vontade de brincar, de rir, de estar desatento. Talvez o de ontem fosse um deles…

Sebastião da Gama em Diário

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