«Ponha-se na rua!» «Não ligam nenhuma ao que a gente diz». Ali está uma
solução errada e aqui uma visão, também errada, de um problema que é um caso
sério. Em grande parte dos casos, quem devia ir para a rua era eu, era o
professor; eles não ligam nenhuma, em grande parte dos casos, porque não pode
interessar-lhes o que nós queremos impingir-lhes à força.
(…)
- Afinal vocês não estão a ouvir-me…
- Olha só agora é que deu por isso…
O Artur abriu-me os olhos: talvez quinze estivessem interessados; os
outros quinze estavam a pensar noutra coisa. Confesso a minha culpa: fiquei
aborrecido; confesso a inteligência da minha solução; terminei imediatamente a
lição. Mas eu fiquei provavelmente (pelo menos de momento) aborrecido com eles;
e isso é um erro, um gravíssimo erro. Pois de quem foi o pecado senão meu, que
julguei que aquilo, naquele momento, poderia interessá-los? Tudo isto é um caso
muito sério, como eu disse de princípio; constantemente nos esquecemos de que
não temos 14 anos ou calculamos mal os gostos dos rapazinhos de 14 anos. Por
outro lado, há dias em que nada poderá fazer deter a sua vontade de brincar, de
rir, de estar desatento. Talvez o de ontem fosse um deles…
Sebastião da Gama em Diário
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