Rómulo de Carvalho,
na Atlântida Editora de Coimbra publicou Guias de Trabalhos Práticos de Química
e Física. Entre 1957 a 1974 foram diversas edições, milhares de exemplares. Até
1972 a empresa teve como gerente o Sr. Cravo que manteve sempre as contas em
ordem e regularmente pagava o que era devido ao autor.
Com a saída do Sr. Cravo da editora, as coisas já não foram bem assim e depois do 25 de Abril pioraram.
Com a saída do Sr. Cravo da editora, as coisas já não foram bem assim e depois do 25 de Abril pioraram.
Uma vez por ano,
Rómulo pedia contas.
Cumpri essa obrigação durante sete anos, rigorosamente, até que em 1981
obtive resposta! A carta então recebida trazia trêzs assinaturas, praticamente
ilegíveis, e nela os signatários afirmavam a sua boa vontade para resolverem o
meu caso, que uma funcionária da editora estava a estudá-lo para apurar as
vendas e fazer as devidas contas, e pediam a “melhor compreensão por parte de
Vossa Excelência”.
Era uma esperança. E que esperança! Vinte dias passados escreveu-me de
novo e, oh! espanto!, mandavam-me as contas relativas às vendas de todas as
minhas edições desde o longínquo ano da revolução até ao fim de Junho de 1981.
De tudo quanto venderam nesse lapso de tempo estavam a dever-me 142,952$45!
Entretanto esclareciam-me, na dita carta, que “com as actuais
dificuldades de tesouraria é praticamente impossível para nós a liquidação
desta importância pela totalidade”. E então solicitavam a Vossa Excelência a
melhor compreensão para lhes facilitar o pagamento “em pequenas prestações
mensais, até ao pagamento integral da dívida”. Ficavam, entretanto, esperando
as ordens de Vossa Excelência e assinavam com elevada consideração e estima.
Respondi-lhes que sim, que estava de acordo, e fiquei aguardando os
acontecimentos. E assim, aguardando os acontecimentos, se acabou a história. Ponto
final. Nunca mais pagaram nada.
(…)
É claro que vocês, meus queridos tetranetos, poderão perguntar por que
não recorri a um advogado para obrigar a Atlântida a pagar-me os 142 contos e
tal que deviam e nunca me pagaram, e a castigá-los de qualquer modo por terem
efectuado edições de livros meus sem eu saber. Sois muito ingénuos, meus
queridos tetranetos. Eu arranjava um advogado, a editora arranjava outro e ao
fim de uma dúzia de anos, sem nada se resolver eu já tinha gasto mais do que
deviam. E também me poderiam perguntar, se vivessem neste meu mundo, por que
não recorri à Sociedade Portuguesa, de que sou sócio, e da qual uma das funções
é zelar pelos interesses dos associados. Pois sim, meus queridos tetranetos. Já
relativamente a um outro caso, passado também comigo, como vos direi, requeri à
Sociedade e ficou tudo na mesma. O mundo é um poço sem fundo e eu esbracejo
para não me afundar. Ninguém estende a mão a ninguém, a não ser que tenha
interesse nisso.
Rómulo de Carvalho em Memórias
Rómulo de Carvalho em Memórias
Legenda: capa de A História dos Balões, publicado pela Atlântida Editora em 1953. Imagem retirada da net.
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