Fantasia Para Dois
Coronéis e Uma Piscina
Mário de Carvalho
Capa: José Serrão
Editorial Caminho, Lisboa, Outubro de 2003
Assola o país uma
pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa
multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros. Desde os píncaros da
Castro Laboreiro ao Ilhéu de Monchique fervem rumorejos, conversas, vozeios,
brados que abafam e escamoteiam a paciência de alguns, os vagares de muitos e o
bom senso de todos. O falatório é causa de inúmeros despautérios, frouxas
produtividades e más-criações.
Fala-se, fala-se,
fala-se, em todos os sotaques, em todos os tons e decibéis, em todos os
azimutes. O país fala, fala, desunha-se a falar, e pouco do que diz tem o menor
interesse. O país não tem nada a dizer, a ensinar, a comunicar. O país quer é
aturdir-se. E a tagarelice é o meio de aturdimento mais à mão.
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