Carta de Jorge
de Sena, datada de 7 de Dezembro de 1973, para Eugénio de Andrade:
Com isto aqui, estou mais triste do que nunca. Os
inimigos que há na alta administração empenhados em que o Português não exista
ou não se desenvolva (é incrível mas é assim) preparam-se para dar-me um golpe
tremendo, não renovando o contrato do rapaz que ensina a língua e é o meu braço
direito. Que poderei fazer, sozinho depois com um eventual leitor português? É
a cepa torta insuportável. A Literatura Comparada vai indo bem, mas tem-me
custado arrelias e cabelos brancos sem fim. Estou literalmente farto da
canalhice americana a todos os níveis. E só se vê tudo indo de mal a pior, com
o insidioso avanço do autoritarismo fascista, e com um custo de vida que faz
com que tudo quanto ganho mal me chegue para sustentar a família. Não sei que
voltas dar – e de Portugal é o que se sabe. Estamos desesperados, a Mécia e eu.
Legenda: Santa Bárbara, Califórnia
Sem comentários:
Enviar um comentário