À partida, tanto quanto posso recuar no tempo, a questão política está
antes de começar a escrever. Ainda no liceu, quando fazíamos escolhas para
jogar futebol, já fazíamos escolhas políticas. Eu lembro-me que só tive três
colegas negros em cento e tal alunos. Mesmo assim quando fazíamos as escolhas
para jogar pequenos jogos de futebol, ficávamos juntos, de um modo geral, por
exemplo, Gentil Viana, Iko Carreira, na mesma equipa e os outros ficavam noutra
equipa. Era uma escolha. Não percebo como, porque é aquela escolha em que se
põe um pé à frente do outro, até que quem pisa escolhe primeiro… No fim dávamos
conta que eram quase sempre os mesmos na «nossa» equipa. Numa dada altura, com
15/16 anos, houve um clivagem entre os que, na Mocidade portuguesa, escolheram
ir para a milícia, para a parte mais militarizada, e os que escolheram ir para
os desportos náuticos. E aí nós dividimo-nos. Depois fui-me dando conta da realidade
com a leitura dos russos: Gorki, Turguêniev, Techkhov, Dostoievski… só depois
Tolstoi… o melhor veio pela literatura.
José Luandino Vieira
em Os Papéis da Prisão
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